Lá fora anunciam tempestade, pelas persianas o vento faz notar a sua intensidade uivando como só ele sabe. Escolhi um livro, e, na introdução, dou com a frase de Degas: «A arte é um vício. Não se desposa legitimamente, viola-se.». Penso como adaptaria o pensamento não à arte, mas à vida em geral. Viver, viver mesmo, é um vício. Sinto grandes angústias por minudências, choro com ridicularias, tenho fúrias com – e por causa – de gente que as não merece, vivo num permanente desconforto que é a essência da vida. Fiz tudo e nada fiz. Amei, revoltei-me, ensandeci, trabalhei, sonhei, bebi, tive medo, fugi, pensei. Mentiria se dissesse que faria tudo da mesma forma. Não. Fiz erros de que me arrependo, fui nobre algumas vezes, mesquinho outras tantas. Aprendi. Vivi. A minha vida é um armário cheio de coisas extraordinárias, pessoas extraordinárias, momentos extraordinários. Um armário infinito, onde espero continuar a armazenar tudo o que aprendi com ela. Com essa mesmo, a vida.
Retirado do blogue: Diário do purgatório, do Fernando Lopes
Alice Alfazema