Uma mão cheia
Longe parecerá o dia em que os vermes nos venham comer, que passem por nós já frios e imóveis, em que a nossa vontade será nula perante a Natureza das coisas. E crescerão flores sobre nós e pássaros hão-de poisar nos seus ramos. Tão longe que será tão breve, como uma chuva miudinha que parece não molhar.
E a pele será comida, nosso berço aquele barro vermelho, aos poucos nos havemos de transformar, de sólido a líquido, de líquido a pó. E alguém agarrará uma mão cheia de terra e lançará ao ar, e voaremos num sopro, espalhados em vários rumos povoaremos um outro ser. E não haverá guerra nem paz que altere isso. Nem zangas, nem revoltas, nem sorrisos, nada, apenas uma mão cheia de nada.
Ilustrações Nunzio Paci
Alice Alfazema