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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

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Um Natal no Rio

15
Dez19

Era uma vez um Rio, que corria de Sul para Norte, passava por serras, montes e vales, e vinha desaguar a um estuário que tinha como fim um Oceano imenso. Esse rio era manso e azul, "em certos dias tinha mesmo a cor do céu", as suas margens eram gémeas e nele viviam muitos animais. Tinha uma das pradarias marinhas mais importantes do país, onde nasciam as mais variadas espécies, e que serviam também para alimentar e proteger os golfinhos que por lá viviam, as pessoas que por ali viviam faziam desse espaço o seu modo de vida, e no mercado daquela cidade havia muito bom peixe, faziam até festivais alusivos à qualidade desse peixe, por diversas vezes a imprensa falou disso e as pessoas vinham de muito longe para comer peixe nessa cidade. 

No entanto um dia o céu escureceu e o rio ficou da cor do chumbo, as suas lamas foram revolvidas e foi aberta uma grande fenda no leito do rio, era um buraco imenso por onde podiam entrar grandes navios, uma verdadeira auto-estrada marinha, para abrirem essa fenda levou-se muitos dias, seis meses, dia e noite a draga retirava areia e mais areia e tudo o que viesse atrás, o rio ficou castanho, as pradarias morreram porque não tinham oxigénio, devido às águas turvas e contaminadas pelos depósitos que tinham ficado durante décadas no leito do rio, os golfinhos adoeceram, ninguém sabe se vão sobreviver, são cerca de duas dezenas apenas.

 

No Verão aquela cidade era muito visitada, muitos famosos iam lá comer e passear naquele rio, mas nenhum deles se importou com aquela matança, nem mesmo sabendo que as areias retiradas do rio iam ser depositadas em frente às praias da zona, naquele tempo o orçamento de Estado contemplava medidas contra as alterações climáticas e eram punidas as pessoas que maltratavam gatos e cães, algumas pessoas manifestaram-se contra esta grande maldade que estavam a fazer ao Rio, que era a casa de muita gente com escama e sem escama, houve uma petição contra esta destruição do nosso património natural, que atingiu o número suficiente para ser discutida em Assembleia da República, mas ninguém ligou patavina, porque o dinheiro é o mais importante, principalmente quando é muito. 

 

A grande árvore metálica e reluzente continua a brilhar na avenida principal da cidade, é Natal, a draga está a postos nas águas calmas do Sado, as pessoas fazem compras apressadas, e agasalham-se por causa do frio, vão para casa, algumas acendem lareiras, sentam-se confortavelmente à sua mesa, na sua casa, no seu espaço, no sítio que mais preservam. Entretanto a draga continua a destruir a casa dos outros. Mas que importa isso é Natal!

 

Feliz Natal!

 

 

 

 

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