Diário dos meus pensamentos (22)
Sabes, passo pelas pontes sem as ver.
Talvez o rio abundante se tenha já secado.
Vieram chuvas risonhas que murmuraram
Segredos e promessas. Partiram velozes
Os sussurros. E as promessas.
Sabes, o cais onde atracam barcos e
Pessoas apressadas que levam sonhos
E moradas nas algibeiras, fica desgarrado
Quando todos partem de olhos pejados de azul.
Sabes, certa noite, silenciosa e confidente,
Pois nela me acolhi, na fresta entre duas
Tábuas do chão gasto, era branco um papel dobrado.
Abri-o como quem descobre um segredo. E li.
Um dos homens mais apressados, daqueles
Que estão sempre com as horas nas mãos,
Deixou cair de entre o seu amor às oportunidades
Um pequeno e terno recado.
Esqueceu-se que dentro dos papéis
É que se escondem os sonhos…
Poema Lília Tavares, in Evocação das águas