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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Diário dos meus pensamentos (22)

10
Abr20

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Sabes, passo pelas pontes sem as ver.
Talvez o rio abundante se tenha já secado.
Vieram chuvas risonhas que murmuraram
Segredos e promessas. Partiram velozes
Os sussurros. E as promessas.

Sabes, o cais onde atracam barcos e
Pessoas apressadas que levam sonhos
E moradas nas algibeiras, fica desgarrado
Quando todos partem de olhos pejados de azul.

Sabes, certa noite, silenciosa e confidente,
Pois nela me acolhi, na fresta entre duas
Tábuas do chão gasto, era branco um papel dobrado.
Abri-o como quem descobre um segredo. E li.
Um dos homens mais apressados, daqueles
Que estão sempre com as horas nas mãos,
Deixou cair de entre o seu amor às oportunidades
Um pequeno e terno recado.
Esqueceu-se que dentro dos papéis
É que se escondem os sonhos…

 

 

 

Poema Lília Tavares, in Evocação das águas

Bom dia :-)

19
Nov17

 

Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 



Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 



O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 

 

 

 

Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 



O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 



Vai por cinquüenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 



Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 

 

 

 

Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 



Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 



Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo".

 

Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 

 

 

 

Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 



Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 



Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...

 

 

Poema de Manuel Bandeira

 


E tu que lês-te isto, que tipo de sapo és tu?

 

 

 

 

 

Alice Alfazema