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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Marionette

17
Nov20

 

 

marioneta.jpg

Ilustração Szimonidesz Hajni

 

Se tivesse de escolher uma cor para dar significado a este ano de 2020, seria o vermelho, porque é uma cor que  me faz lembrar: de coração, de amor, de sangue, de partilha, de ódio, de força anímica, é uma cor contraditória, viva, envolvente, nem sempre bem interpretada, quando é vermelho? quando é encarnado? de encarnarmos.

Talvez  o ano nos tenha encarnado, tal como nós encarnamos a natureza humana, não numa visão de criar carne, mas de assumidamente nos resumirmos apenas à nossa condição perene. Se o ano fosse um objecto, eu escolheria uma marionete que por vezes nos cativa e outras nos aterroriza,  levando-nos para cenários diferentes dentro do mesmo teatro, a manipulação da marionete é feita com destreza, afinco, dedicação, dor, ousadia, e alguma delicadeza para que os fios não se entrelacem. Possivelmente a vida continuará dentro de momentos. 

 

 

 

Útero

10
Set19

vermelho.jpg

 

Ilustração Sarah Jarrett 

 

discurso vazio e pretensioso lambuzado em muros
santificados
repetidas e repetidas vezes
até que quase todo mundo acredite que é
viável.

 

afetações dos séculos aceitas
como Arte.

 

cuidado com os livros didático, cuidado com as bibliotecas,
cuidado com as galerias,
cuidado com o pai e o professor.
cuidado com a mãe.

 

nascemos numa civilização atordoada
por uma mediocridade esmagadora.

 

o que está diante de nós é um truque, uma
ilusão, uma mentira.

 

o útero nos cuspiu num cano de esgoto.
novos deuses são necessários.
novas portas precisam ser abertas.
esperamos tanto por tão pouco.
devemos romper o cerco.
essa obscuridade fede a nós,
aqui.

 

 

Poema Charles Bukowski