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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

A pedra e o caminho

28
Abr10

Era uma vez uma bela e grande pedra que a água molhava durante largo tempo do ano. Depois de a água desaparecer, a pedra ficou a descoberto num lugar bastante alto, precisamente onde acabava um bosquezito cheio de sombra. Dali, ela dominava o caminho pedregoso que corria mais abaixo. Faziam-lhe companhia algumas frescas e aromáticas ervinhas salpicadas de flores.

Um dia, ao olhar para o caminho sobre o qual, para o tornar mais sólido, tinham atirado calhaus, vieram-lhe desejos de se deixar cair em cima deles.

Assim pensando, a pedra mexeu-se e, rolando pela encosta abaixo, terminou a sua rápida corrida precisamente no meio dos calhaus cuja companhia tanto desejava.

Pelo caminho passava tudo: carros com rodas de ferro, cavalos ferrados, camponeses de botas cardadas, rebanhos, etc. Depressa a bela pedra ficou em apuros: um, golpeava-a, outro pisava-a, outro arrancava-lhe um pedacinho; às vezes, ficava suja de barro, outras emporcalhada pelo esterco dos animais.

Olhando para cima, para o sítio donde tinha vindo, a pedra suspirava, chorando por ter perdido aquela solidão e desejando, mas em vão, a paz tranquila de que, então, gozava.

 

in, Fábulas, Leonardo Da Vinci