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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

15

O coro infantil mollmäuse & FRIENDS

15
Mar21

 

Portugal, meu amigo!

Portugal, mein Freund!

 

Mein Freund, ich habe gelesen,

wie es dir geht,

wie es um dich steht,

Mein Freund,

ich bin ganz erschüttert,

in Gedanken bin ich bei dir,

in einem Gebet.

Doch selbst ein Vogel mit gebrochenem

Flügel braucht Zeit,

bis er wieder fliegt,

der Sonne entgegen,

den Schmerz besiegt.

 

Estarei com você até você voar novamente,

Ich bleibe bei dir, solange bis du wieder fliegst.

 

Estou perto de ti, com certeza,

Estou perto de ti!

Ich bin dir nah.

Ich bin da.

 

Meu amigo,

ouvi falar da tua situação de saúde.

Meu amigo,

o meu coração doí-me,

porque não posso ajudar.

Mas mesmo um pássaro

com asas partidas

que precisa de tempo para recuperar

voará um dia novamente no ar.

 

 

 

 

O país que valoriza o f

favores, facilidades, futilidades, fisco, fraude...

04
Fev20

 

 

Portugal é um país de facilidades e de favores, de futilidades bacocas. Fiquei a saber por estes dias, que somos o contentor de lixo da Europa, que "os aterros de Azambuja (Ribatejo) e de Ota (Alenquer), no distrito de Lisboa, vão receber 79 mil toneladas de resíduos do estrangeiro até finais de Janeiro de 2021, conforme acordos celebrados pelo Estado português com outros países", e que o preço por tonelada de lixo custa “cerca de 11 euros, quando esse valor se situa entre os 80 e os 100 euros na maioria dos países membros”, se olharmos para a factura da água da nossa casa, podemos verificar que pagamos muito mais pelo nosso lixo doméstico, do que quem para cá vem se aproveitar deste negócio. Sendo que muito do nosso lixo doméstico já é reciclado pelos próprios, o que reduz ainda mais aquilo que vai para o aterro.

 

O que vai para estes aterros fica a céu aberto, sendo um manancial para as aves e provavelmente para outros animais, para quem mora perto fica o cheiro nauseabundo que têm todos os dias. A população da Azambuja, no Ribatejo reclama dizendo que “Começámos a assistir ao crescimento de uma montanha gigante de lixo. São barcos que chegam a Portugal, vindos de Itália, do Reino Unido, da Holanda, com dezenas de contentores”, queixa-se Margarida Dotti, relatando que o lixo é descarregado “todas as noites” mesmo “debaixo das janelas” das habitações. A Câmara Municipal da Azambuja desresponsabiliza-se dizendo que o aterro  foi autorizado há anos pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) e pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e, portanto, são eles os responsáveis, não somos nós na Câmara Municipal”. Como chamam a isto desenvolvimento regional, compreendo finalmente porque escavam o Sado, e assassinam o seu estuário e o seu já frágil ecossistema, para que haja um mega porto de contentores, muito lixo há-de chegar... o porto oceânico de Sines é a principal porta de entrada, recebendo 64%, seguido do porto de Setúbal, com 20%, e do porto de Figueira da Foz (15%).

 

Portugal recebeu em 2018 cerca de 331 mil toneladas de resíduos perigosos, das quais 220 mil foram para valorização e 111 mil para eliminação, sendo Itália e Malta os países que enviaram mais resíduos para tratamento. Os dados constam do relatório mais recente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sobre o Movimento Transfronteiriço de Resíduos, de 2018 (os dados de 2019 encontram-se em validação), que refere terem também entrado no país 2,2 milhões de toneladas de resíduos não perigosos naquele ano. Sabe-se ainda que em 2018 deram entrada 220 mil toneladas, relativas a 94 processos, significando um crescimento de 43% face ao ano de 2017. Para compor em 2018 a maioria das entradas de resíduos perigosos para eliminação (54%) destinaram-se diretamente para deposição em aterros, sendo a operação de tratamento físico-químico remetida para segunda posição. Como se pode ver este  é um processo de modernização do país e uma mais-valia para as novas gerações.  A APA diz que os resíduos perigosos entram no país tanto pelas fronteiras terrestres, por via rodoviária, como pelas fronteiras marítimas, sendo que em 2018 entraram principalmente via navio e, posteriormente, comboio e/ou camião até às instalações de tratamento respetivas. Este volume passou das cerca de 60 mil toneladas em 2017 para as 250 mil toneladas em 2019.

 

As perguntas que se fazem: porque temos que levar com o lixo dos outros? Haverá desresponsabilização das entidades quanto à saúde pública? Chama-se a isto desenvolvimento regional? Porque continuam a escavar o Rio Sado para que seja um porto de águas profundas, quando as suas características são na verdade o contrário? A quem interessa o negócio do lixo, sendo o preço da tonelada uma ninharia? Porque temos nos nossos aterros resíduos perigosos vindos de outros países, entre os quais: Reino Unido, Itália, Países Baixos, Gibraltar e França? Não serão estes países capazes de serem auto-suficientes? Ou fica mais barato por o lixo num contentor? 

 

Vamos ter Lisboa Capital Verde Europeia 2020, a Azambuja fica logo ali ao lado, possivelmente haverá um passadiço em madeira até ao aterro, para que se possa sentir o maravilhoso cheiro que a população tem e será criado um miradouro  onde os turistas vão desfrutar da vista, talvez até haja umas actividades interactivas, tais como sejam: esmagar um plástico, chafurdar nas lamas, ou fazer padlle na montanha. 

 

Já agora, podem também vir a Setúbal, porque isto aqui passou a ser um bairro da capital, contar as carcaças das gaivotas que têm aparecido nas praias e também as dos golfinhos, fazer mergulho ao pé da draga para que consigam ouvir a música dos motores como se fossem roazes e os seus cérebros se guiassem por sons, era bom também apreciarem onde são depositadas as areias retiradas do leito do rio, é num local mágico, que se chama Restinga, vulgo: maternidade, onde nasce muita espécie de vida marinha. Futuramente poderão vir a degustar peixe e moluscos em cama de metais pesados. Será uma iguaria divinal!

 

E é assim, a culpa é do f...

 

 

Ler mais em ZAP e A//Portugal.

 

 

 

 

Ser ou não ser europeus

24
Jun16

 

Há uma música do povo,

Nem sei dizer se é um fado -

Que ouvindo-a há um chiste novo

No ser que tenho guardado...

 

Ouvindo-a sou quem seria

Se desejar fosse ser...

É uma simples melodia

Das que se aprendem a viver...

 

E ouço-a embalado e sozinho...

É essa mesma que eu quis...

Perdi a fé e o caminho...

Quem não fui é que é feliz.

 

Mas é tão consoladora

A vaga e triste canção...

Que a minha alma já não chora

Nem eu tenho coração...

 

Se uma emoção estrangeira,

Um erro de sonho ido...

Canto de qualquer maneira

E acaba com um sentido!

 

 

Fernando Pessoa, 1928.

 

 

Alice Alfazema

 

 

 

Ironia na sociedade e na solidariedade europeia

01
Jun15

 

"Escrevo de Atenas, onde me encontro a convite do Instituto Nicos Poulantzas para discutir os problemas e desafios que enfrentam os países do Sul da Europa e as possíveis aprendizagens que se podem recolher de experiências inovadoras tanto na Europa como noutras regiões do mundo. Convergimos em que o que se vai passar nos próximos dias ou semanas nas negociações da Grécia com as instituições europeias e o FMI serão decisivas, não só para o povo grego, como para os povos do Sul da Europa e para a Europa no seu conjunto.

 

O que está em causa? Defender a dignidade e o mínimo bem-estar de um povo vítima de uma enorme injustiça histórica e de políticas de austeridade (para além do mais, mal calibradas) que espalharam morte e devastação social (bem visíveis nas ruas e nas casas) sem sequer atingir nenhum dos objetivos com que se procuraram legitimar. Não admira que o primeiro ponto do programa de Salónica do Syriza seja o alívio imediato da grave crise humanitária.

 

Com um envolvimento militante que há muito desapareceu dos cinzentos políticos europeus, a vice-ministra para a Solidariedade Social, Theano Fotiou, fala-me do modo como está a ser organizado o resgate dos que caíram em pobreza extrema (programas de alimentação, eletricidade e tratamento médico gratuitos), não deixando de salientar a cooperação, de algum modo surpreendente, que tem tido dos bancos gregos para gerir o sistema de pagamentos. Para além das políticas de emergência, o programa do Syriza, tal como o de Podemos na Espanha, é um programa social-democrático moderado. Esta é a grande ironia da Europa: os sociais-democratas de ontem são os liberais de hoje; os revolucionários de ontem são os sociais-democratas de hoje.

 

As principais linhas vermelhas que o Syriza não pode deixar cruzar referem-se à redução das pensões e ao fim da contratação coletiva. Trata-se dos dois pilares principais da social-democracia europeia. Ao defendê-los, o Syriza está a defender o que há de mais luminoso no património político, social e cultural da Europa do último meio século. É uma defesa corajosa no processo de negociação mais assimétrico e desigual da história europeia (e talvez mundial) recente. Uma defesa que só não será solitária se puder contar com a solidariedade ativa dos cidadãos europeus para quem o pântano da resignação não é opção.

 

O que vem aí? Costumo dizer que os sociólogos são bons a prever o passado. Mas não é difícil ver nos sinais disponíveis mais razões para pessimismo do que para otimismo. Surpreendentemente, um desses sinais mais perturbadores para os gregos é o programa económico recentemente apresentado pelo PS português. A radicalidade conservadora de algumas propostas, sobretudo no domínio das relações laborais e das pensões (mais conservadoras do que as do PSOE espanhol e muito semelhantes às do novo partido conservador espanhol, Ciudadanos), leva a considerar que ele foi elaborado com inside knowledge, isto é, com conhecimento prévio e privilegiado das decisões, por enquanto secretas, que os "grandes decisores" europeus já tomaram em relação à Grécia e aos países do Sul da Europa.

 

Tanto no domínio das pensões (erosão das condições de sustentabilidade para justificar futuras reduções) como no das relações laborais (erosão fatal da contratação coletiva), o PS propõe-se uma política que viola as duas linhas vermelhas principais do Syriza e, que, aplicada entre nós, porá fim à mitigada social-democracia que conquistámos nos últimos 40 anos. Pré-anúncio de que o Syriza vai ser trucidado para servir da vacina contra o que pode ocorrer na Espanha, na Irlanda, em Portugal e mesmo na Itália? Não sabemos, mas é legítimo ter uma suspeita e uma certeza.

 

A suspeita é que os "grandes decisores" visam atingir o coração do Syriza, fazendo com que parte dos seus apoiantes (sobretudo os que não dependem de ajuda humanitária) o abandonem, eventualmente com a promessa ardilosa de que sem o Syriza poderão obter mais benesses europeias do que com ele. A certeza é que, com a derrota do Syriza, os partidos socialistas que em tempos optaram pela terceira via saberão em breve que esta via é em verdade um beco sem saída."

 

Boaventura Sousa Santos



Ensaio retirado daqui.

 

Alice Alfazema