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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Para fazer o melhor do mundo é preciso um bocado de tristeza

26
Jan19

 

Ilustração  Jungsuk Lee

 

Nuvens lentas passavam
Quando eu olhei o céu.
Eu senti na minha alma a dor do céu
Que nunca poderá ser sempre calmo.

 


Quando eu olhei a árvore perdida
Não vi ninhos nem pássaros

 


Eu senti na minha alma a dor da árvore
Esgalhada e sozinha
Sem pássaros cantando nos seus ninhos.

 


Quando eu olhei minha alma
Vi a treva.
Eu senti no céu e na árvore perdida
A dor da treva que vive na minha alma.

 

Vinícius de Moraes

 

 

 

 

 

És a faca ou o balão?

22
Ago18

 

Ilustração Ada Sinache

 

 

 


Era uma vez… Um tanque maravilhoso.

 

Era uma lagoa de água cristalina e pura onde nadavam peixes de todas as cores existentes e onde todas as tonalidades de verde se refletiam permanentemente… Aproximaram-se daquele tanque mágico e transparente a tristeza e a fúria para se banharem em mútua companhia.

 

Ilustração Thierry Manes

 

 

As duas tiraram os vestidos e, nuas, entraram no tanque.
A fúria, que tinha pressa (como sempre acontece com a fúria), pressionada pela urgência – sem saber porquê – banhou-se rapidamente e, ainda mais rapidamente saiu da água… Mas a fúria é cega ou, pelo menos, não distingue claramente a realidade. Por isso, nua e apressada, pôs, ao sair, o primeiro vestido que encontrou….

 

Ilustração Mark Ryden

 


E aconteceu que aquele vestido não era o dela, mas o da tristeza…
E assim, vestida de tristeza, a fúria foi-se embora.
Muito indolente, muito serena, disposta como sempre a ficar no lugar onde estava, a tristeza terminou o seu banho e, sem pressa – ou melhor dito, sem consciência da passagem do tempo – com preguiça e lentamente, saiu do tanque.

 

Ilustração Cameron Bliss

 

 


Na margem, deu-se conta de que a sua roupa já não estava lá. Como todos sabemos, se há uma coisa que não agrada à tristeza é ficar nua. Por isso vestiu a única roupa que havia junto do tanque: a roupa da fúria.

 

Ilustração Marco Manzella

 

 


Contam que, desde então, muitas vezes nos encontramos com a fúria, cega, cruel, terrível e agastada. Mas se nos dermos tempo para olhar melhor, percebemos de que esta fúria não passa de um disfarce e, por detrás do disfarce da fúria, na realidade, está escondida a tristeza. 

 

 

Jorge Bucay in "Contos para Pensar"

  

 

 
 

 

Chuva

16
Out17

 

Ilustração Stanley Kerr

 

 

Neste momento está a chover. Há tanto tempo que não chove. Já tinha saudades da chuva e do cheiro a terra molhada. As formigas hão-de esconder-se das gotas de chuva. Abençoada água que cai do céu e molha a terra demasiado seca. O resto das folhas das árvores hão de cair já sem força para continuarem nos ramos. A chuva cai de mansinho, avançando pela estrada escura e suja de pó. Lava a estrada, lava o ramo, lava a mágoa do dia de ontem. Bem-vinda chuva que estais caindo.

 

 

 

Alice Alfazema