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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Diário dos meus pensamentos (12)

Às tiras

31
Mar20

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Todos os dias faço um bocadinho da manta, no entanto houve um percalço, na primeira carreira coloquei tantas malhas que a manta ficou enorme, desmanchei o que tinha feito, reduzi e ajustei na medida que queria. Este trabalho leva-me para outros pensamentos, tenho muitos restos de lãs e desmanchei dois cachecóis que já não uso, para reciclar a lã, no meio disto tudo estão pessoas, a camisola que fiz para o meu filho, o xaile da minha filha e da minha sobrinha, a camisola e o cachecol da minha cunhada, a manta da minha madrinha de casamento e a manta do neto dela, o casaquinho do neto da minha colega, a manta de bebé de outra colega e de outra, o cachecol  da namorada do meu filho, coisas minhas e dos outros, tantas que já nem sei bem.  Tiras de cores, tiras de amores, lembranças agora mudas e separadas, mas que o tempo há-de juntar.

 

 

(roubei o coração à equipa do SAPOBLOGS, obrigada pelos corações)

 

O casaco

08
Jan17

 

Ilustração  Jeehyun Kim

 

Estou a fazer um casaco em tricot, já foi um xaile, como não gostei dele desmanchei-o, agora é um casaco, daqueles sem botões, nem fecho, é uma coisa de vestir e despir. Comprei a linha há mais de dois anos, quando o acabar serei outra, diferente daquela que era anos atrás. A vida é assim como os novelos, às vezes têm nós, outras vezes partem-se, por vezes farta-mo-nos daquilo que fazemos ou do que somos, desmanchamos e voltamos ao zero. Começo então novamente, mas já não sou aquela que tinha imenso frio, nem aquela que gostava tanto de azul. 

 

 

Alice Alfazema

 

Entre malhas

06
Nov16

Aprendi a fazer crochet com a minha avó materna, cordão e mais cordão, até sair perfeitinho, com uma agulha e linha fina, cordão fininho de linha branca, " a linha não pode ficar suja, não podes fazer pressão na linha", tenho que ser carinhosa com a linha, para que ela fique imaculada, cordão fininho.

 

Aprendi a fazer tricot com pessoas amigas, tantas que não sei o nome de todas, fazia-o no comboio, antes de entrar ao trabalho, na hora de almoço, truques que me ensinaram, faz assim, desmancha, faz assado, desmancha, até sair quase perfeito. 

 

Aprendi com mulheres antigas, com gostos requintados, aprendi que é preciso insistir, até sair cordão fininho.

 

Aprendi que agora é mais fácil que ontem.

 

Aprendi que aquilo que sei é um pedaço delas.

 

Obrigada

 

 

 

Alice Alfazema