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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Demissão silenciosa

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11
Set22

Leio por aí que existe agora uma vaga de trabalhadores que se regem pela chamada demissão silenciosa - nome dado pelos especialistas - mas ao que parece não é uma demissão, então para que lhe deram esse nome¿. E que especialistas são estes? Ao que tudo indica trata-se apenas de cumprir o horário de trabalho e as funções para o quais foram contratados, nada de mais portanto, é somente ser-se cumpridor dos seus deveres e direitos.

Parece assim haver uma admiração generalizada em concretizar tais factos, o que também não entendo, mas assim como tudo isto é agora exposto e questionado  pela comunicação social como se fosse uma revolta dos trabalhadores, também o é em relação a haver avaliações pelo trabalho prestado, onde se avalia o trabalhador por aquilo que ele faz e para além daquilo para o qual contratado -  dando um exemplo disso: refiro-me ao facto de um dia alguém me ter dito que a avaliação de excelente haveria de ser para quem apresentasse resultados que iriam além da sua função, o que também não entendi na altura. Opinião essa que também encontro muitas vezes em estudos de especialistas. Assim chego a concluir que os especialistas são especializados em confusões especializadas sobre as regras, direitos e deveres dos trabalhadores e das entidades empregadoras.

Um contrato de trabalho é isso mesmo -contrato, com cláusulas escritas, sendo que não seja escrito prevale a lei,   as mesmas refletem os  deveres e os direitos de ambas as partes, se alguma das partes exigir mais do que aquilo que lá está acordado deverá ser reformulado - a isso chama-se princípio da equidade. 

Justo será dizer também que há um alheamento  global daquilo que é ser-se cumpridor, ou seja as palavras dos especialistas tornaram-se tão  vulgares que deixaram em aberto  o seu verdadeiro significado, levando a que qualquer um o interprete a seu bel prazer.

Conversas da escola - 27 de Março de 2020

28
Mar20

Hoje a escola estava vazia, os alunos estão em casa de quarentena, muitos têm aulas virtuais, outros por e-mail, e há os que não têm nada disso, ou porque não têm Internet, ou porque os pais não têm capacidade para os orientar. No entanto, a escola física permanece viva, cheia de bichos, eu diria até que está entregue a eles, é uma pausa que provavelmente trará mais desigualdades sociais, poderá no entanto aumentar a solidariedade, mas apenas se as pessoas mudarem de atitude, porque se continuarem elitistas tudo isto terá sido em vão. É bom que não se esqueçam rapidamente, e que fique para a História, e  que seja estudado em Psicologia e em Sociologia, tal como em Antropologia e Ciência Política, e nas mais variadas Ciências Sociais, para que em conjunto se reflicta e valorize a diversidade da vida humana, as suas consequências e os modos de como podemos ultrapassar questões que dizem respeito a todos. 

 

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A borboleta transforma-se num processo de confinamento ao casulo, através dele alcança o voo, mesmo que seja rápido é uma experiência que lhe confere chegar até onde nunca tinha ido. 

 

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A fruta adoça presa na árvore e esta presa na terra dá o seu fruto a quem anda por aí, como prova de carinho por quem lhe espalha as sementes, é vida multiplicando-se.

 

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A flor concede aos polinizadores o seu pólen e dá-nos ainda uma paleta de cores que nos brindam nesta Primavera, dando-nos ânimo, para que possamos entender que a saudade é uma palavra que agora pertence a todos.  

 

(estas fotografias foram tiradas por mim na escola durante este dia)

 

 

Diário dos meus pensamentos (8)

Um dia quase normal

27
Mar20

Hoje foi um dia quase normal, levantei-me e fui ao pão, de seguida passei o Ginjas, comi o pequeno-almoço e bebi um café enquanto me actualizava nas notícias. Preparei o meu lanche almoçarado para levar para o trabalho, meti uma máscara dentro da sacola, um frasco de álcool gel, lenços de papel. 

 

Saí para a rua e o sol resplandecia, estava fresco, fui ver como estava a minha varanda, ainda não tinha apreciado o que tinha feito ontem. Gostei, está como o imaginei, simples mas intenso. Não fiz um arco-íris. Fiz antes um girassol com um pé de riscas coloridas e dois corações. Espero que entendam o significado desta flor. Continuei e fui apanhar o autocarro.

 

Ia pouca gente no autocarro,  todos com semblante triste, os vidros estavam abertos e uma fita vermelha e branca separava o espaço do motorista dos restantes. Chegando à minha paragem levantei-me e acenei ao motorista, conhece-o há muito tempo. Chama-se João. Ele devolveu-me o cumprimento fazendo um aceno com a cabeça através do espelho. Desci e retirei o frasco do álcool, desinfectei as mãos. 

 

Atravessei a estrada, quase não havia trânsito, nas bermas as papoilas tinham um vermelho intenso, não me lembro de ver aqui destas com um  vermelho tão garrido. Pensei, a Natureza é tão inteligente, dá-nos vivas com estas cores, são lições de ânimo.  

 

Entrei na escola e fomos abrir o espaço, arejar, limpar, estava tudo tão calmo, fui dar uma volta pelo recinto, regar os canteiros, ver se estava tudo bem. Na horta os legumes cresciam a seu belo prazer, um casal de melros estava a comer as alfaces, os caracóis fizeram uma festa nas couves e as favas estavam cheias de piolhos, os brócolos estavam amarelados e as ervilhas eram apenas umas ervas recém-nascidas. 

 

Contornei os blocos de salas, um gato gordo e simpático veio ter comigo, estivemos à conversa, no meio das ervas que já estavam altas apareciam os tocos das grandes árvores que cortaram há cerca de dois anos, fui contá-las para ter a certeza, eram quatro, gigantes deitados a baixo, explicação: durante o ano num período aproximado de duas semanas deitavam sementes que pareciam algodão, muitas vozes reclamavam que lhes faziam alergia e cortaram-lhes o cepo. A mim acusaram-me de defensora de árvores. Depois vieram plantar umas novas com pompa e circunstância, mas nada vingou.