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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Escuridão luminosa

15
Ago19

Estamos numa espécie de Idade Média do tempos modernos, agora as pessoas têm informação, muita informação, mas não a utilizam de forma correcta, propagam-se então as notícias que têm anos como se fossem novidades, a fonte da notícia não é tida em conta. Há assim uns locais onde o povo se ajunta e grita, mas agora são gritos escritos, nada de atirar tomates e verduras podres, agora são os comentários de ódio, sem fundamentação. Depois uns riem, outros aplaudem, tal como na forca, poucos se importam com o que se passa, apenas querem ver o espectáculo. Chamam-se redes sociais, mas poderiam chamar-se  pátios, caminhos, veredas, varandas, baldios...

 

Na Idade Média os Homens da Ciência eram visto como loucos, agora são os activistas ambientais, são descredibilizados, torturados, mortos, ridicularizados. Nesta era aceita-se o casamento entre o mesmo sexo, proclama-se a inclusão, faz-se voluntariado nos mais diversos países, a escolaridade nunca foi tão intensa, presume-se que a sabedoria também. No entanto, vivemos dias negros,  assistimos à extinção de muitos animais selvagens como quem come pipocas. Vemos incêndios na floresta como quem vê um filme de drama. Assistimos a podas radicais das grandes árvores feitas por equipas especializadas. Olhamos e deixamos que as árvores sejam arbustos. Quem reclamar é um louco. 

 

A cada dia que passa o nosso mundo vai perdendo a biodiversidade. Arrasam-se as florestas, estrangula-se a Amazónia e os seus habitantes, comem-se peras abacates nas saladas fit sem saber de onde vieram. Em Portugal planeia-se construir um aeroporto num estuário e um super porto de cargas e descargas num rio onde há uma reserva e um parque natural e uma imensa fauna marítima. Este é o futuro.  Quem se impuser a ele é louco. 

 

Não há nobres nem feudos, nem cavaleiros de armadura, nem cascos a bater nos caminhos. Mas há uma escuridão luminosa em cada ecrã. Há uma ânsia pelos boatos e pela coscuvilhice. Há um desespero pela aparência. Não há pensamento para as gerações futuras. Há um monte de gente a prostituir-se pelo momento. São falas mansas, são conversas demoradas e repetitivas, sem conteúdo, que cativam quem nada quer saber.

 

Os loucos são os que se importam. 

 

 

Tau Tau

30
Mar18

 

No início deste mês, o Ministério do Ambiente confirmou, em resposta à Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, que os dados do autocontrolo transmitidos pela Celtejo relativos a 2015 e 2016 "demonstram que não foram cumpridos os limites de descarga de efluentes a que estava obrigada", tendo a IGAMAOT confirmado mais um processo de infração por ultrapassagem dos valores limite de emissão (VLE).

 

Em janeiro, foram definidas pelo Governo restrições de descargas no rio à Celtejo, após se tornar visível um grande foco de poluição no Tejo, na zona de Abrantes, distrito de Santarém (a sul de Vila Velha de Ródão).

 

 

O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, disse então que o fenómeno de poluição "é resultado da libertação da matéria orgânica depositada sob a forma de sedimentos no fundo das albufeiras do Fratel e de Belver, provocada por anos de funcionamento das indústrias aí localizadas e da reduzida precipitação do último ano, que não diluiu essa carga orgânica".

 

 

 

 

Solução? Repreensão escrita. Ai os meninos portaram-se tão mal, vão levar tau, tau...

 

 

Pormenores de um poema e de uma varanda sobre o Tejo

09
Abr15

 

varanda.JPG

 

Esta é uma varanda sobre o Tejo. Este poema pertence à voz do Carlos do Carmo, e foi escrito pelo José Luís Tinoco, quanto à música poderão ouvi-la aqui

 

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida

 

No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.

 

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.

 

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

 

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.

 

No teu poema
Existe um canto, chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano

 

Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra
E um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas

 

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

 

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.

 

 

Alice Alfazema