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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Suicídio

08
Jan24

Na semana passada uma actriz/modelo conhecida do público português, mas não o suficientemente famosa para dar lugar a grandes manifestações de pesar, saltou da Ponte 25 de Abril, num salto sem retorno, ela uma mulher ainda com tanto por viver, com três filhos, um dos quais com autismo severo. O ano passado esta mulher deu uma entrevista a um programa de televisão, daqueles que passam durante a tarde, diz-se que foi uma entrevista em que se antevia o sofrimento daquela mulher que assumiu os seus vícios para compensar o sofrimento de não ser capaz de estar à altura daquilo que a sociedade esperava dela: uma boa mãe, uma mulher resiliente, uma mãe e trabalhadora determinada, sem cansaços nem queixumes.

Não ouvi ou li grande coisa sobre este assunto, sobretudo de opiniões de como é viver em sofrimento, numa permanente luta consigo mesma, sendo que tal situação acabou por levá-la ao desespero total. Neste sofrimento surdo de que não se é capaz de se reencontrar a paz de espírito, o sossego do corpo, o sentir de uma abraço, a alegria de viver.

Apesar de tudo, este sofrimento foi falado no ecrã, sítio onde mais nada resta, e muita gente viu e falou, e disse que trabalhasse e que se fizesse à vida, e a mulher foi-se e eles continuaram falando, falando como se nada tivesse acontecido.

 

Colinas mergulham na brancura.

Estrelas ou pessoas

Me olham com tristeza, desapontadas comigo.

 

Um fio de hálito fica no caminho.

Ó, lento

Cavalo cor de ferrugem,

 

Cascos, sinos doendo –

A manhã toda

Manhã ainda escurecendo,

 

Essa flor ao relento.

Meus ossos sentem um sossego, os campos

Distantes dissolvem meu coração.

 

Eles ameaçam

Me abandonar por um céu

Sem estrelas e órfã, água escura.

Poema Sylvia Plath 

Saúde mental

19
Jan22

saúde mental.jpg

Ilustração Hala Maher Yehia

Esta pintura foi criada pela artista como meio de chamar a atenção sobre a forma como lidamos com a nossa saúde mental,  olhamos claramente para a boca esborratada, o que falta ali? É claro nesta visão de que se trata da mesma pessoa, no entanto a pessoa que cala não é a mesma que fala. A força da dualidade existente dentro de cada um nem sempre vem à tona, pode não haver demonstração, pode haver um silêncio em que ninguém dá por isso, poderá ser uma tristeza prolongada, uma angústia disfarçada de alegria. É isto a saúde mental, em que o próprio cérebro se encontra e se perde em pânico na busca de respostas para as quais nenhuma lhe sai pela boca. 

A questão da saúde mental raramente é levada a público e a sério, na maioria das vezes prescrevem-se medicamentos para os sintomas sem no entanto se tratarem também as suas causas, no ciclo da causa efeito há quem morra na busca de sair da sua dor, talvez porque essa dor é uma causa e não um sintoma. 

 

 

Carnaval

11
Fev14

Pintura Gaetano Bellei

 

Depois de ler isto dou por mim a pensar na Margarida, mas que também se pode chamar Maria ou outro nome qualquer.

 

Tantos dias se passaram, tantas tardes e noites. Deixou o emprego, trancou-se em casa, nunca mais saiu com os amigos, não deixa ninguém entrar na sua casa. Pergunto-me que imenso carnaval é este? Onde todos vêem o mesmo e todos fingem que não vêem nada. Dou por mim a pensar no cão que tem mais sentimentos de solidariedade com os da sua raça...

 

Alice Alfazema

Caminhos do suicídio

11
Jun12

 

Que progresso é este que leva ao suicídio? Que espécies inteligentes dominam  os países e os mercados e escolhem estes caminhos como exemplo de sucesso? Quem gostará de viver num sucesso destes? É isto que deixaremos de herança? O sacrifício de uns - o sucesso de outros. O suicídio de uns - para a riqueza imensurável de outros. Deve de facto ser um inferno viver sem liberdade, sem esperança de melhor, enclausurado no tempo da sua própria vida, deve de ser um sofrimento atroz que leva há busca de outros sentidos, a sentimentos e acções desesperadas. É este o sentido do sucesso de mercados? Viver sem sentido, sem poder estar com a família, sem liberdade, é a isto que se chama sucesso? E exemplo?

 

 

 

Alice Alfazema