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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Do outro lado

11
Nov20

 

Podemos esgotar a vida a tentar fazer aquilo que não sabemos, a ultrapassar os medos e as inseguranças. Por vezes com tantas tentativas falhadas que nos levam à exaustão, ao desalento e até à desistência do objectivo. Fazêmo-lo porque à luz da sociedade é bastante valorizado sermos insistentes naquilo que não somos capazes. Então como num martírio lá vamos nós dia a dia, passo a passo, esperando que chegue a ocasião de sermos elogiados pelo que conseguimos. Raramente começamos pelo outro lado, por aquela coisa que já sabemos, aumentando lentamente esse saber, chegando à plenitude de que não há mais nada por aprender e passar para outro assunto com outra confiança, com outro estado de espírito, com outra vontade. Apostando primeiro naquilo que nos deixa feliz, para que o resto seja apenas mais uma mera coincidência.  

 

  

 

O pássaro solitário

14
Set19

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Em certa árvore há um pássaro, que canta a alegria da vida.

Nos galhos mais escondidos, lá ele pousa e repousa.

Chega ao descer o crepúsculo e parte ao erguer-se a aurora.

 

 

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Quem sabe que pássaro é esse que canta dentro de mim?

Não tem forma nem cor, não tem contorno nem estofo.

Pousa na sombra do amor e repousa no inatingível.

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Kabir diz: Ó sadhu, meu irmão, profundo é este mistério.

Deixa que os sábios descubram onde tal pássaro se esconde.

 

 

 

Poema - tradução: José Tadeu Arantes, Kabir: Cem Poemas, Attar Editorial, 2013 - visitem a página para compreendem a metáfora do pássaro solitário, é muito interessante. 

 

As magníficas ilustrações são de Nacho Sevilha

 

Cada um sente o que é

25
Abr18

 

Ilustração  Kristina Swarner

 

 

Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre (…) Cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.

 

 

 

Arthur Schopenhauer

 

 

 

Alice Alfazema

O pintor da solidão

07
Ago14

Pintura Edward Hopper

 

 

Era uma solidão que outrora se levava nos dedos,

como a chave do silencio. Uma solidão de infância

sobre a qual se podia brincar,

como sobre um tapete.

Uma solidão que se podia ouvir, como quem olha para as arvores,

onde há vento.

Uma solidão que se podia ver, provar, sentir,

pensar, sofrer, amar,    

uma solidão como um corpo, fechado sobre a noção que temos de nós:

como a noção que temos de nós.

 

Cecília Meireles 

 

Alice Alfazema