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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Autoestima

e Liberdade

27
Mai23

As mulheres

 

A auto-estima está intimamente ligada ao sentido de liberdade,  não se tem auto-estima estando preso a algo ou a alguém, a tentação e a decisão de começar a mudança apenas em si próprio muitas das vezes não surte o efeito desejado, o que leva a uma maior insatisfação pessoal, talvez revolta surda  onde desembarcam as recaídas e a ressaca se agiganta monstruosamente, num medo gélido, congelando o mais ínfimo músculo, paralisando qualquer reacção, e mesmo fazendo os esforços necessários, e lendo isto ou aquilo, aplicando esta e aquela opinião,  vai aumentando o medo de falhar, não há nada, nada há que faça mudar isso, a não ser a quebra abrupta pelo algoz que nos põe nessa situação. 

O exercício primeiro é feito de fora para dentro, porque é de fora que vem o estimulo, são opiniões de outros, gestos subtis ou bruscos, linguagem não verbal assimilada, identificar, analisar, reflectir, acção. Como se corta uma corrente? Com um gesto, com a acção. Como se sabe que resulta? Quando se sente no corpo a sensação de Liberdade.

  

Ilustrações do livro “Meu corpo, minha casa”, de Rupi Kaur

O tempo e a mentira dão origem à realidade social em que vivemos

04
Nov20

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Ilustração Claudia Giraudo

 

Quando somos crianças aquilo que nos pode revoltar mais é apanharmos alguém em mentiras. Depois à medida  que crescemos e vamos tendo mais contacto com o mundo, para além do nosso quotidiano, vamos nos dando conta que a mentira é banal em todos os quadrantes da nossa vida e da nossa sociedade. Vivemos agora num tempo em que tudo é muito rápido, não há tempo para grandes surpresas, nem para digerirmos com calma as mentiras da vida. Há quem se refira ao termo "há muitos anos" como se estivesse a falar de décadas, quando no final viemos a saber que são na realidade dois ou três anos.

Mas afinal o que é o tempo e a realidade de hoje em dia?  A realidade é aquilo que se passa, não o que nos contam, o tempo é a mesma medida de sempre, mas levada à realidade daquilo que é transmitido. Assim, hoje é mais fácil obter informação rápida, mas não posso dizer que foi "há muito tempo", quando na realidade se passaram um par de anos. Se assim fosse, uma criança de dez anos seria um velho? Continuamos a precisar de tempo para a compreensão e, não é por haver conexão rápida que isso acelera o processo, muito pelo contrário, há agora diversas interferências que é preciso saber discernir. Se antes tínhamos livros validados, onde podíamos obter o nosso conhecimento, agora temos uma série de fontes credíveis e não credíveis que nos dão a sensação de termos o conhecimento ao nosso alcance sem necessidade do outro. E baralhamos assim a realidade e o tempo. Dando origem a milhões de opiniões e comentários desfasados daquilo que é a verdadeira realidade social. 

Parece haver também um pouco caso sobre a mentira. Mentir é assim, como colocar mais um adereço, damos demasiada importância aos mentirosos, mentir tornou-se num estado normal de consciência, é assumido pela sociedade como fazendo parte da realidade, mente-se em relação à felicidade, em relação ao discurso, às emoções, mente-se por tudo e por nada, num dia a mentira é a notícia, no outro a notícia é mentira. E mentir tornou-se tão banal como deprimente, tal como na corrupção, é assumido e validado em sociedade. Ninguém tem vergonha ou medo de ser mentiroso. É talvez até prestigiante, desde que sirva para atingir os fins. 

Estamos assim deprimidos e desfasados da verdade e do tempo, sem rumo e sem perceber o que andamos por aqui a fazer. Poderia também falar dos suicídios, das doenças autoimunes, das depressões, e de tantos outros estados de espírito que por aí andam, compará-los com a mentira que se vive hoje em dia, com a realidade social isenta de lideres que nos tragam soluções para um futuro mais justo, enquadrar a utilidade das pessoas perante a sociedade, enfim descamar a estratificação do tempo, da mentira e da realidade criada à volta desta. 

 

Qual o local de eleição deste ano?

26
Set20

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Ilustração Irene Fioretti

 

Este ano temos estado demasiado atentos aos outros e passamos muito tempo à janela. Tem sido um ano de profunda reflexão sobre os valores que queremos e dos que devemos abandonar. Não é para mim um ano desperdiçado, como tenho ouvido dizer por aí. É um patamar de mudança, se fosse um jogo, chamaríamos de - mudança de nível. Ou caímos, ou subimos, a diferença é que aqui não há como ficar no mesmo nível. Sabemos que esta janela temporal é comum e global, sabemos também que apesar de ser comum e global, ela é diferente em cada país, e em cada pedaço do globo, e não só por essa forma, ela também difere pelo bairro em que vivemos ou da cidade, pela forma como nos alimentamos, pela profissão que temos, pelo poder económico, pela idade e até o género. A imagem de que o vírus atinge todos da mesma forma não é verdadeira. Há quem tenha de se expor como um peão, outros como um bispo ou um rei. E nisto  passámos a Primavera à janela, tanto na real como na janela virtual que nos permite estarmos aqui a escrever e a lermos uns e outros. A janela é um ponto de partida para o conhecimento, um ponto de vigia, de acesso, e ainda de encontro paralelo neste mundo global de desigualdades crescentes e incrivelmente ignoradas, mesmo debaixo do nosso nariz, perdão - janela. Deste modo a nossa rua (que é onde estão as nossas janelas), é alargada em proporção da população existente globalmente, e é relegada em detrimento de outros valores que continuam a sobrepor-se à sua existência, valores esses que contribuem directamente e indirectamente para aquilo que estamos a viver. Numa doença não se verificam apenas os sinais e os sintomas, muitas das vezes é nas causas que está a solução. Ou então a velha máxima: Onde? Como? Quando? Porquê?

 

O "branco" não existe

Miscigenação

18
Jun20

 

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Ilustração Rita Cardelli

 

 

 

(...)aos ‘brancos racistas portugueses’, aos que defendem uma hierarquização dos indivíduos com base nas suas diferenças físicas e comportamentais herdadas. Do ponto de vista biológico-genético e antropológico, não existem ‘raças’, apenas uma gama enorme de variações de traços físicos entre os seres humanos. O ‘branco’ não existe: a formação étnico-racial da nação portuguesa é resultado de um profundo processo de miscigenação de diferentes povos. O ‘branco’ português é, na verdade, um mestiço.

 

Sociólogo Donizete Rodrigues, docente da Universidade da Beira Interior.

 

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