Cabeça
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O silêncio.
Escrevi este texto neste blogue em Agosto de 2012. Passaram-se tantos dias desde então, no entanto continuo a gostar destas velhas palavras. Encontrei-as hoje ao acaso. Talvez hoje não as escrevesse assim. Lembro-me perfeitamente de quando as escrevi: estava sozinha, numa sala de aula vazia, e sentia o peso do silêncio e o vazio do espaço. Quando trabalhamos com muita gente é difícil preencher esse vazio, tanto nos sons como no espaço. Ficam as vozes durante muito tempo a habitar a nossa cabeça.
Ilustração Norman Rockwell
Por estes dias a escola parece, assim à primeira vista, abandonada, no entanto, as pessoas continuam a entrar e a sair, não numa azafama, mas num passo mais descontraído.
Os pássaros, as formigas e as osgas tomam conta dos pátios, as aranhas apoderam-se dos tectos. É certo que os pássaros são em menor número, e que a alimentação que procuram é escassa. Por estas alturas não há restos de lanches deixados nos pátios, migalhas ou outros afins. Há um silêncio ensurdecedor, um calor sufocante, e imensas cadeiras vazias. No entanto, parece que as conversas, os gritos e os risos ficaram no ar, parece que pairam esperando que alguém as transforme em som e alegria.
O vazio alastra, na tarde de Verão, os sons e as brincadeiras estão guardados no armário da memória, não tarda e aí estarão eles de volta ao pátio, às salas, às escadas, na fila do refeitório, na entrada. As bolas voarão tais como mísseis redondos e precisos (às vezes nem tanto), e vai chegar o tempo dos ralhetes, do refilanço, das angustias, dos amores e desamores.
E eles irão passar de meninos a adolescentes num ápice.
De volta ao tempo, a mudez do som continua, alastrando consigo as memórias, os pássaros continuam procurando aqui e ali, as osgas escondem-se, e eu aqui, parece que fiquei presa nalguma saída do tempo.
Texto original aqui: A escola nas férias de Verão. Ou se preferirem...leiam nesta página.