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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Serra da Arrábida

Fotografia Artur Pastor poema de Sebastião da Gama

18
Jun20

portinhoda arrábida.jpg

 

Nada sabe do Mar

quem não morreu no Mar.

Calem-se os poetas

e digam só metade

os que andam sobre as ondas

suspensos por um fio.

 

portinhoda arrábida1.jpg

 

Sabe tudo do Mar

quem no Mar perdeu tudo.

Mas dorme lá no fundo,

tem os lábios selados,

e os olhos, reflectem

e claramente explicam

os mistérios do Mar,

para sempre fechados.

 

 

 

Fotografia Artur Pastor, Portinho da Arrábida décadas de 40/60, Serra da Arrábida, Setúbal. Poema, Inscrição de Sebastião da Gama.

Sem lamentos nem ais

26
Dez12

 

Os engenheiros vieram, mediram, olharam...
Havia árvores velhas...
Mandaram deitar abaixo
e os homens deitaram.

Sem lamentos, sem ais
as árvores caíram...
Mas os engenheiros não puseram mais;
em seu lugar apenas
três cardos enfezados refloriram.

E os cardos vis são gritos de revolta
das sombras errantes pelo Ar;
das sombras que tinham por abrigo
aqueles freixos antigos
que o machado foi matar.

As sombras gritam, mas os engenheiros 
não põem freixos novos no lugar.

 


Sebastião da Gama



Alice Alfazema

Elevação

31
Out12

 

Já não estou em cima do rochedo...

Embebi-me na Tarde,

embebi-me na paisagem,

embebi-me no que eles vêem e no que eles não vêem mas eu vejo,

e tão leve me fiz,

tão para longe do rochedo aonde já não estou,

que o rochedo ficou só

e eu distanciei-me na paisagem,

na Tarde,

na brandura da aragem...

 

Ausentei-me de aqui, de corpo e alma,

diluí-me na paisagem, 

e a rocha ficou vazia,

com ar, só ar,

com ar, só ar, em cima dela.

Ora porque será que estou ainda a vê-la,

a Tarde,

porque será que a vejo como, de cima do rochedo, a via,

se eu afinal já não sou ela?...

 

 

Sebastião da Gama




Alice Alfazema