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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Lugar(es) vazio (s)

Árvore de Natal

20
Dez22

perda.jpg

 Ilustração Alessandra Roccasalva

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

Poema de José Luís Peixoto

Mar e Sol

28
Nov22

alice-rudolf-frauen-srgb-19-960.jpg Ilustração Alice Rudolf

Há mulheres que são mar e sol, que se desfazem e refazem, como marés que vão e vêm. São sal que tempera o ânimo, são sol que ilumina o dia. E mesmo quando a sua energia se esgota e o seu corpo é forçado a ir, elas ainda ficam, dando tempo à saudade, nos espaços por onde andaram, nas pessoas que conheceram, nas lições que ensinaram. E fica a ideia, tal como quando encostamos um búzio ao ouvido na esperança de escutarmos o mar, fica a ideia de que às vezes se estivermos atentos ainda podemos ouvir um último riso que ficou por viver.