Bom dia ;)
Neste sítio, comi ontem as minhas primeiras sardinhas deste Verão. Foram duas horas de férias e uma bela jantarada.
Alice Alfazema
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Neste sítio, comi ontem as minhas primeiras sardinhas deste Verão. Foram duas horas de férias e uma bela jantarada.
Alice Alfazema
Ilustração Wojtek Kowalczyk
Era vez um almoço de colegas, ou quase colegas. Para terminar o ano de trabalho decidiram fazer uma bela almoçarada, fixaram um preço, propuseram-se a candidatos e juntaram um grande grupo. No dia do almoço, uns arranjaram as saladas, outros cortaram o pão, cozeram as batatas, salgaram o peixe e a carne, houve também quem acendesse os fogareiros e assasse os ditos, outros ainda puseram a mesa e arranjaram as sobremesas. Chegada a hora da comezana, vieram os outros com as sobremesas nas mãos, sentaram-se e encheram a pança, riram e provaram da pinga, as sardinhas já criavam molho no pão, houve fila nos fogareiros, havia fumo no ar. Passado um tempo as vestes já estavam empestadas do fumo e as mentes haviam ficado mais leves. Depois chegaram as sobremesas, que ainda não estavam bem poisadas nas mesas e já havia quem as debicasse, lamberam-se os beiços, deram-se os últimos risos e foram-se leves que nem borboletas. Ficaram uns poucos que comeram as cenouras e bailaram para por em ordem aquelas coisas fofas que ficam por fazer no final de cada festa.
Alice Alfazema
Ilustração Astrid Trügg
Antes de sentir a traição na pele ela sentia-se livre, gozava de uma liberdade atlântica, o fresco do oceano banhava a sua pele e trazia-lhe o odor do sal para junto de si, as ondas alegres faziam-lhe cócegas pelo corpo todo e gargalhava até lhe doer a barriga. Depois disso veio a sensação pegajosa do óleo que se lhe agarrou à pele, o fecho asfixiante na lata apertada, onde todas pertenciam ao mesmo clube. O das chifrudas.
Alice Alfazema
Como o tempo é de comer sardinhas deixo-vos aqui um pequeno texto que fiz sobre a pesca do cerco, quando comerem o peixe lembrem-se que ele não vem das bancadas do hiper ou de um outro qualquer lugar, mas sim daquele mar lindo que temos e que é pescado por gente que sabe muito de suor e de lágrimas.
A pesca de cerco é uma arte que se enquadra no âmbito de processos e técnicas tradicionais. Estão a ela associados saberes, objetos e lugares. Esta arte manifesta-se ao longo da costa portuguesa, tem no entanto algumas variações entre lugares. Assim, a sul do Tejo as embarcações são de menores dimensões e muito diferenciadas nas suas características. Na região norte podemos encontrar embarcações mais recentes, enquanto no Algarve a frota é bastante envelhecida. Esta atividade é levada sobretudo para a captura da sardinha, pode no entanto capturar outras espécies, tal como a cavala, o carapau e a sarda. No continente, é feita nas águas costeiras da plataforma continental, faz-se ao longo do ano e a sua atividade é regulamentada por legislação nacional. Geralmente as embarcações são pequenas comunidades familiares que mantêm o seu saber no seu núcleo.
Dantes as docas encontravam-se repletas dessas embarcações, entretanto com a modernização das técnicas de pesca, a globalização do comércio e as exigências das cotas pesqueiras feitas pela UE, houve uma drástica diminuição nas frotas pesqueiras. Apesar das adversidades encontraram-se caminhos para manter a atividade. Tais como, a criação de projetos certificados, entre eles a conserva artesanal de pescado e a gastronomia como oferta turística. São exemplo os festivais da sardinha, os petiscos, entre outros. As histórias de vida vêm também enriquecer este património.
As viagens para a captura do peixe, têm a duração de 12 horas e fazem-se próximo do porto de partida. Esta pesca divide-se em quatro etapas, a “ largada da rede, viragem da retenida, alagem da rede e transbordo do peixe”. O Mestre é o responsável pela embarcação e cabe-lhe decidir e efetuar o lance de pesca. As embarcações mais pequenas são designadas por rapas ou tucas e as de maior dimensão são as cercadoras e as traineiras. As cercadoras utilizam uma pequena embarcação auxiliar a que se dá o nome de chalandra ou chata. A frota só está autorizada a pescar “ ¼ de milha de distância da costa, e apenas em profundidades superiores a 20 metros”.
Aos lances podem acontecer duas coisas: slipping ou transbordo. O slipping corresponde à libertação deliberada da captura, no entanto esta manobra é feita de modo a que o peixe nunca saia da água, o que não acontece noutras artes. Existe também a partilha de captura entre embarcações, exemplo disso são as chamadas “enviadas” existentes em Sesimbra que “ transportam a captura de um lance para o porto de desembarque enquanto a traineira prossegue a pesca”. Sendo a pesca de cerco uma atividade tradicional e de interesse nacional, esta atividade enquadra-se na diversidade cultural e pode garantir o desenvolvimento sustentável. Existe uma correlação entre as comunidades na produção e recriação de modos de vida, que de algum modo contribuíram para a sua salvaguarda e tomada de consciência das gerações futuras.
Deixo-vos um video para que possam apreciar esta arte.