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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Será que os corações têm alma?

Ou serão meras partes de um corpo?

27
Jul22

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Ontem, fui ver e ouvir o Salvador Sobral a actuar em Palmela, gostei especialmente da sua veia de bom humor - "obrigado, senhora varredora da cultura por me ter convidado..." - foi um espectáculo polvilhado de momentos únicos, tal como o próprio disse: que não gosta de ser repetitivo e monótono - não foi - foi giro, por vezes hilariante, foi emocionante, delicado, com magia, gostei, fez-me bem, saí de lá outra.

No decurso do concerto tornou-se inevitável para mim ouvir apenas o som do canto e os acordes dos instrumentos, os meus pensamentos voavam lado a lado com as melodias ouvidas, eram rápidos e incontroláveis, por mais que quisesse - não consegui deixar de relacionar os movimentos velozes que o cantor fazia com a cabeça, enquanto descarregava a adrenalina que lhe ia na alma, com a sua fragilidade aquando  do Festival Eurovisão da Canção em 2017, o qual ganhou em Kiev, na Ucrânia, desejei o mesmo para este país, que renasça.

 Pensei, em como o tempo pode ser tão leve, tão leve como pó levado pela brisa. 

Recordo a noticia sobre o transplante de coração feito ao artista, ironicamente pela mesma época em que faleceu a neta de uma amiga, sei que partes desse corpo foram para doação de órgãos, era um corpo jovem e saudável, tristemente perdido numa minúscula viagem de carro, lembro-me de termos falado: ela não morreu totalmente, vai andar por aí, outras pessoas irão ser felizes por causa dela.

Fica sempre a dúvida. 

Dizem que é só uma parte, mas uma parte também pertence a um todo - é uma parte de uma vida que pertence agora a um todo de outra, tornada num universo transformador. Sublime essa partilha. Sentimentos vividos em paralelo, num amar pelos dois corpos, um mesmo coração. 

 

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Amar pelos Dois

13
Mai17

Pedi ao meu filho, que é rapaz que percebe de música, que escrevesse algo sobre a canção do Salvador Sobral:

 

 

Erguem-se os arcos e num toque suave vibram as cordas em sintonia com o mundo, num tom deslumbrantemente florestal, enraizando as almas apegadas à magia da primeira escala. Os olhos fecham-se para ouvir o vento murmurando as palavras da estória de amor, entre acordes subtis e ricos de paixão, revelando a perfeição sobreposta à dissonância. Em crescendo, o vento solitário sopra para o horizonte infinitamente vazio à visão, em ondas expressivas e frágeis, em rondó de emoções. Uma harmonia misteriosa e nas ramagens cai o silêncio.

 

 

Fez-me esse texto acima, eu disse-lhe que queria uma análise musical, ele diz-me que o meu blogue não tem coisas técnicas, por isso escreveu assim. Peço-lhe outra vez, e ele escreveu este texto abaixo:

 

 

O violino voa, dialoga com o violoncelo no primeiro conjunto de frases, intermediadas de tremolos, personificando homem e mulher, quando por entre suspensões, surge a sussurrada anacruse da personagem principal, desvanecendo o vibrar das cordas, para culminar num acorde de “Fá Maior com Sétima Maior” no piano, um chamamento à bossa-nova brasileira. A viagem deste dueto continua na calma de um andante movimentado numa base disfarçadamente jazzística com progressões harmónicas extraterrestres na radiofonia atual, hipnotizando o ouvinte sem este se aperceber, florescendo também passagens de cordas em vaivém, assumindo por vezes a sua própria independência, independência esta que constrói o trampolim para o nosso Salvador transformar-se celestial.

 

Dois textos para Amar pelos Dois. Que o universo vos faça feliz! A ti e ao Salvador!

 

 

 

Alice Alfazema