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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Saúde mental

19
Jan22

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Ilustração Hala Maher Yehia

Esta pintura foi criada pela artista como meio de chamar a atenção sobre a forma como lidamos com a nossa saúde mental,  olhamos claramente para a boca esborratada, o que falta ali? É claro nesta visão de que se trata da mesma pessoa, no entanto a pessoa que cala não é a mesma que fala. A força da dualidade existente dentro de cada um nem sempre vem à tona, pode não haver demonstração, pode haver um silêncio em que ninguém dá por isso, poderá ser uma tristeza prolongada, uma angústia disfarçada de alegria. É isto a saúde mental, em que o próprio cérebro se encontra e se perde em pânico na busca de respostas para as quais nenhuma lhe sai pela boca. 

A questão da saúde mental raramente é levada a público e a sério, na maioria das vezes prescrevem-se medicamentos para os sintomas sem no entanto se tratarem também as suas causas, no ciclo da causa efeito há quem morra na busca de sair da sua dor, talvez porque essa dor é uma causa e não um sintoma. 

 

 

Borago

04
Mai21

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Hoje trago  outra obra de arte na natureza, a borragem, de um azul céu, que faz lembrar os dias longos de Verão em que a preguiça reina e convida à reflexão. Parece que se envergonha, deixando as suas flores a olhar o chão. Cachos azuis que sobressaem nos vários verdes que lhe rodeiam. Comestiveis, e com diversas propriedades dignas das mais finas flores.  

 

 

Sonhos impossíveis

07
Fev21

 

Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espectáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis.
 

Bernardo Soares , do Livro do Desassossego

 

Tudo agora parece impossível, estamos dentro de um cerco invisível, as saudades agigantam-se e as preces são repetitivas, qual oração não o é? A nossa janela de oportunidade parece afunilar-se, como um óculo ao contrário. De longe a longe, faz-me falta o silêncio, faz-me falta estar sozinha, faz-me falta outras vozes. Sinto-me como aquela camisola de lã que encolheu com a lavagem inadequada, sou a mesma, mas deixei de ser quem era, num ápice. Tenho pensado muito que estou na minha etapa final, não viverei mais do que já vivi, importa-me começar, fazer o que não fiz, por em prática planos, e sobretudo acreditar, arriscar. Um pouco de loucura para terminar.

 

 

A estrada está lavada e os fantasmas estão molhados

da saga: uma caminhada por dia

05
Fev21

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Hoje descuidei-me e deixei fugir o sol. Choveu grande parte do dia e a estrada ficou lavada, o alcatrão luzia no escuro como se tivesse sido escovado a preceito. A humidade sentia-se no ar. Havia um silêncio intimador que parecia impregnar cada passo, cada árvore, cada pedra do lancil.  Umas nuvens vindas do Atlântico ameaçavam desabar em cima de nós. Fugimos delas numa caminhada nada acelerada. Um frio fininho acercava-se do nariz, dando a sensação que podia ser arrancado a qualquer momento. 

 

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Os fantasmas deram-se a mostrar num brevíssimo instante, traziam as vestes molhadas, e fundiam-se com a paisagem, sobressaltaram-se connosco,  e dissolveram-se, levando consigo qualquer vestígio. Ficaram as ruas molhadas, o reflexo dos candeeiros, o castelo iluminado lá ao longe,  uma nesga de infância.