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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Diário dos meus pensamentos (44)

02
Mai20

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Eu não estou cansada destes dias, apenas não quero voltar a viver da forma como vivia antes deles. Não quero, já não me revejo, nem ambiciono. E isto é um desejo muito forte, que tenho de trabalhá-lo e de batalhar bastante para conseguir alcançá-lo. É um caminho que estou a percorrer há alguns anos, em que apesar de demonstrar ser essa a minha vontade, tenho tido sempre obstáculos que não consigo ultrapassar, alguns deles sei que existem, mas são de difícil comprovação. Redes invisíveis se propagam ao nosso redor, são obscuras, dúbias, que nos podem levar até a duvidarmos de nós próprios, são quase maquiavélicas, (não sei se não hei-de retirar o quase). Por vezes há a sensação que a força depende apenas de nós,  é mentira, depende também, e muito, do ambiente ao nosso redor. Da forma como os outros nos vêm como alvos a abater, ou de como somos coisas inúteis, apesar de demonstrarmos inúmeras vezes o contrário. Neste tempo, tenho avaliado a causa do meu descontentamento e cheguei à verificação que isso se deve em grande parte ao ambiente em que estou inserida, não por uma imposição definitiva, mas antes num dever de o frequentar todos os dias. Não sei ser indiferente. Quero sair desta vida fazendo a diferença, sentir-me útil a maior parte  dos dias,  e se esse espaço me está a ser vedado tenho de ir em busca dele num outro lado.

 

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A reflexão pode ser dolorosa, a acção ainda mais, mexer naquilo que queremos acabar, exige fazer um desprendimento emocional com todos os sentimentos que adquirimos ao longo dos anos, talvez seja como fazer uma viagem deixando a bagagem no ponto de começo, neste caso recomeço. Qualquer dia é um dia bom, não precisa ser quarta, nem domingo, pode ser um outro dia qualquer, o que me importa verdadeiramente é que esse dia chegue depressa. 

 

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As ilustrações são de  Martina Heiduczek

Diário dos meus pensamentos (43)

1º de Maio 2020

01
Mai20

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Ilustração Mar Azabal

 

Hoje começa o mês de Maio, estamos assim no - Dia do Trabalhador -, assinalado este ano de forma muito diferente, com as ruas das cidades e das vilas quase vazias, e as casas cheias de gente que está angustiada com o seu futuro profissional, muitas empresas e empresários estão empenhados em fazer frente aos tempos que por aí se avizinham, que serão sem dúvida de difíceis decisões, outras há que se hão-de aproveitar para despedir a eito, sem criar soluções e sem grandes remorsos por uma desistência tão precoce. Haverá pressões patronais mirabolantes que poderão levar à redução dos direitos laborais. É importante que todos nos mantenhamos informados sobre a forma de como devemos agir se formos alvo destas situações. A informação fidedigna deve ser procurada de maneira a estarmos sempre atentos aos nossos direitos e também aos nossos deveres, ultrapassar tudo isto exige de todos uma grande persistência em nos mantermos actualizados e pró-activos. 

 

Assim, também começa o mês que é dedicado ao coração, o músculo que mais temos trabalhado nestes dias que andamos a viver, o coração que vive em cada um de nós e para além de nós, na forma como vivemos e nos damos aos outros, nestas semanas temos visto tantos e tantos exemplos de como é possível demonstrar o nosso afecto e a nossa gratidão, e de mudar a nossa forma de estar e de pensar, de como o coração acelera quando vemos bons exemplos que se replicam num acto de contágio que leva a gestos fundamentais para que este tempo seja de gente que encontra coragem para ultrapassar o seu medo e se transcende e leva aos outros a esperança, o alento, o emprego, a inovação, a comida, um afago, as soluções, algumas estratégias e a partilha de conhecimento. Obrigada Gente de Grande Coração!

 

 

Bom dia minha amiga digo em Maio
és uma rosa à beira dum tractor
neste campo de Abril onde não caio
a nossa sementeira já deu flor.

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Bom dia minha amiga eu sou um gaio
um pássaro liberto pela dor
tu és a Companheira donde saio
mais limpo de mim próprio mais amor.

 

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Bom dia meu amor estamos primeiro
neste tempo de Maio a tempo inteiro
contra o o tempo do ódio e do terror.

 

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Se tu és camponesa eu sou mineiro.
Se carregas no ventre um pioneiro
dentro de ti eu fui trabalhador.

 

 

 

Poema José Ary dos Santos

 

Ilustrações de Biljana Mihajlovic