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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Bom dia 💋

14
Set19

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Ilustração Roshi Rouzbehani

 

Há muito tempo, na cidade de Zahlé, ocorreu uma rixa entre um jovem poeta, de nome Fauzi, e um oleiro, chamado Nagib. Para evitar que o tumulto se agravasse foram levados à presença do juiz do lugarejo. O juiz, homem íntegro e bondoso, interrogou primeiramente o oleiro, que parecia muito exaltado.

 - Disseram-me que você foi agredido? Isso é verdade?

- Sim, senhor juiz.  - confirmou o oleiro - fui agredido em minha própria casa por este poeta. Eu estava, como de costume, trabalhando em minha oficina, quando ouvi um ruído e a seguir um baque. Quando fui à janela pude constatar que o poeta Fauzi havia atirado com violência uma pedra, que partiu um dos vasos que estava a secar perto da porta. Exijo uma indemnização! - gritava o oleiro.

O juiz voltou-se para o poeta e perguntou-lhe serenamente:

- Como justifica o seu estranho proceder?

- Senhor juiz, o caso é simples.  - disse o poeta - Há três dias eu passava pela frente da casa do oleiro Nagib, quando percebi que ele declamava um dos meus poemas. Notei com tristeza que os versos estavam errados. Meus poemas eram mutilados pelo oleiro. Aproximei-me dele e ensinei-o a declama-los da forma certa, o que ele fez sem grande dificuldade. No dia seguinte, passei pelo mesmo lugar e ouvi novamente o oleiro a repetir os mesmos versos de forma errada. Cheio de paciência tornei a ensinar-lhe a maneira correta e pedi-lhe que não tornasse a deturpa-los. Hoje, quando eu regressava do trabalho, ao passar diante da casa do oleiro, percebi que ele declamava a minha poesia estropiando as rimas e mutilando vergonhosamente os versos. Não me contive. Apanhei uma pedra e parti com ela um de seus vasos. Como vê, meu comportamento nada mais é do que uma represália pela conduta do oleiro.

Ao ouvir as alegações do poeta, o juiz dirigiu-se ao oleiro e declarou:

- Que esse caso, Nagib, sirva de lição para o futuro. Procure respeitar as obras alheias a fim de que os outros artistas respeitem as suas. Se você equivocadamente julgava-se no direito de quebrar os versos do poeta, achou-se também o poeta egoisticamente no direito de quebrar o seu vaso.

E a sentença foi a seguinte:

- Determino que o oleiro Nagib fabrique um novo vaso de linhas perfeitas e cores harmoniosas, no qual o poeta Fauzi escreverá um de seus lindos versos. Esse vaso será vendido em leilão e a importância obtida pela venda deverá ser dividida em partes iguais entre ambos.

A notícia sobre a forma inesperada como o sábio juiz resolveu a disputa espalhou-se rapidamente.

Foram vendidos muitos vasos feitos por Nagib adornados com os versos do poeta. Em pouco tempo Nagib e Fauzi prosperaram muito. Tornaram-se amigos e cada qual passou a respeitar e a admirar o trabalho do outro.

O oleiro mostrava-se arrebatado ao ouvir os versos do poeta, enquanto o poeta encantava-se com os vasos admiráveis do oleiro.

 

 

 

Histórias e lendas do mundo árabe, Malba Tahan.

 

Coisas da vida e da morte

11
Out16

Como todos sabem a entrada e saída de miúdos numa escola é deveras interessante. É um oásis que reflecte a sociedade. Os pais e as mães competem entre si pelo melhor lugar para deixar o carro, não há limites para a imaginação. É o carro estacionado em cima da curva, no passeio, em frente ao portão da escola, em segunda fila, em sentido contrário, fazer de rotunda no cruzamento, à pressa, à pressa, à pressa, beijinhos à pressa, ralhetes à pressa, tudo rápido, rapidinho.

 

Nesta confusão de gente ainda há lugar para mais? Sim. 

 

Hoje, uma pai e uma mãe que têm como profissão cangalheiros, foram buscar o seu rebento à hora de almoço, levaram o seu carro de profissão, tendo este as cortinas baixas, não fiquei portanto a saber se alguém antes de ir lá para baixo ainda teve de ir buscar um puto à escola.

 

Confesso que reconheci logo o motorista que há uns anos às sete e picos da manhã, quando eu ia a caminho do trabalho, quase me atropelou, com o mesmo carro de serviço, entretanto e enquanto eu ainda ria do sucedido e agradecia a Deus  estar viva, e de não ter passado a vergonha de morrer assim, vejo-o entregar o seu rebento no ATL. 

 

É tudo por agora.

 

 

Alice Alfazema

 

 

Você tem preconceito linguístico? E profissional?

07
Ago16

 

Retirado da página Eu Empregada Doméstica

 

Nesta página há vários relatos de empregadas domésticas brasileiras, onde muita gente tenta ridicularizar a escrita dos mesmos. Por cá não é muito diferente. Nos blogs, nos jornais, nos programas de TV, no quotidiano, no trabalho, enfim entre uns e outros. As pessoas querem se distinguir dos outros pelo papel social que representam, pensam que valem muito. Há um ditado que diz: a merda é a mesma, o cheiro é que é diferente.

 

 

Alice Alfazema