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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

O estranho caso das gémeas (gêmeas)

24
Jun24

 

Fictional World of Agatha Christie.jpg  

É  de louvar louvando que uma grande parte das pessoas, comentadores, comentadeiras, e comentadoritos,  sinta imensa empatia pela mãe das gémeas por ela ter usado o "pistolão", é certo que a mulher conseguiu o que queria para as filhas, seu maior propósito enquanto mãe, quanto a isso não há grande coisa a dizer, milhões de mães lutam todos os dias pelo bem estar dos seus filhos. 

O que me causa estranheza, aqui neste nosso país à beira mar plantado é o facto, de muito pouca gente se indignar com aquilo que se passa todos os dias com as crianças - que vivem e moram aqui e precisam por exemplo de uma cadeira de rodas - segundo consta as crianças visadas ganharam uma cadeira de rodas cada uma (top de gama) que só por acaso nunca foram usadas - , pois aqui  anda uma criança e os pais e amigos e seja lá mais quem for a angariar toneladas de tampinhas plásticas para que se consiga comprar uma cadeira de rodas nova, isto porque as crianças crescem - todos os anos - para quem não saiba, está comprovado que as crianças crescem e as cadeiras de rodas não, sendo assim porque não se ouvem orlas de gente, incluindo jornalistas, a falarem sobre este assunto ?!. 

Do que digo, digo-o com conhecimento de causa, os miúdos amontoam-se na cadeira de rodas até que não caibam mais, até que consigam outra, porque existem outras prioridades, entre as quais tratamentos elevados, que os pais pagam como podem, e ninguém se indigna?! Onde andam a porra da TVs?! Para casos que estão dentro da nossa casa? E as salas de multideficiência, em que cada metro quadrado tem um nome pomposo para cada terapia, mas no fundo aquilo é tudo um amontoado de gente dentro daquele espaço, sem qualquer privacidade, para não falar na falta de meios mecânicos auxiliares (e outros) para ajudar no dia-a-dia de quem cuida das crianças, e ninguém se indigna?

Resta saber, se o que fica é um monte de indignados ou de fofoqueiros, porque falar a gente fala, fazer é que é mais complicado.  

A mim parece-me que o faz de conta já deixou de ser apenas do universo infantil, o macaquinho do chinês está em cada canto e o tiroliro anda por aí à solta a fazer das dele.

 

Direitos dos trabalhadores

dos outros e dos nossos

09
Abr24

 «O caso do João:

      Exerce funções num Juízo de Instrução Criminal e, pelas 15:00 horas, recebeu a notícia de que iria ser presente para primeiro interrogatório judicial um arguido detido, suspeito da prática de alguns crimes relacionados com escravidão e violação.

      Permaneceu ao serviço e pelas 18:00 horas começou o interrogatório e pelas 20:30 horas a diligência foi interrompida, tendo sido ordenado ao João que providenciasse pelo jantar do arguido.

      O João diligenciou junto de um restaurante local para que fosse confecionado um jantar para o arguido, composto de sopa, bebida, prato de carne e sobremesa. O João foi buscar o jantar e serviu-o no Tribunal ao arguido.

      A diligência recomeçou após o jantar e terminou à meia-noite, tendo o João que realizar ainda algumas diligências processuais, designadamente, cumprindo a decisão, tendo conseguido sair pela 01:00 da manhã do Tribunal.

      O João não jantou, ao invés do arguido, porque o João não teve direito a qualquer subsídio ou compensação para tal e, não tendo dinheiro para pagar uma refeição no restaurante, e, não contando com a diligência, não se tinha preparado levando marmita de casa também para o jantar.

      Naquele mesmo dia estava previsto que o transporte para a sua residência seria em transporte partilhado com outros trabalhadores e que começaria a viagem de regresso pelas 18:00 horas. Porém, como os restantes não puderam esperar por si e os transportes públicos já tinham deixado de funcionar, o João ainda equacionou se ficaria a pernoitar no seu local de trabalho, como já tinha feito noutras ocasiões, ou se iria a casa ver e dar um beijo aos seus filhos, tendo optado por ir para casa, chamando um táxi que pagou e acabou a jantar por volta das 02:30 da manhã.

      Por este serviço suplementar de oito horas o João não foi pago. Suportou a despesa do transporte para a residência e, ao contrário do arguido detido por violação, o João não teve direito a jantar.

      Teve um dia de trabalho de 15 horas, ultrapassando todos os limites legais e sem qualquer compensação.

      Todos os demais presentes na diligência: polícias, advogados e magistrados, jantaram e foram pagos. O João não. O salário de pouco mais de 1000 euros – porque já ganha bem por desempenhar estas funções há mais de vinte anos –, tem de ser esticado para chegar ao final do mês e a despesa do táxi já terá de ser descontada na conta mensal da mercearia do próximo mês.

      No dia seguinte, pelas 09:00 horas, o João já estava a trabalhar, pois caso contrário ser-lhe-ia marcada falta com perda de vencimento. Já os polícias estavam de folga, os advogados puderam dormir um pouco mais e os magistrados, sem obrigação de comparência às 09H00, não têm qualquer problema com horários.»

      Entre outras considerações consta também assim:

      «Não existe nenhuma outra profissão, quer no setor público, quer no setor privado, onde os trabalhadores estejam sujeitos às pesadas obrigações impostas aos Oficiais de Justiça.

      Ainda há bem pouco tempo assistimos a programas televisivos em que a temática era o trabalho de estrangeiros em propriedades agrícolas no litoral alentejano. Ora, o que se passa atualmente nos tribunais e nos serviços do Ministério Público deste país, é algo abusivo muito semelhante.»

Retirado daqui