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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

como nasce a água ou o amor (?)

04
Nov21

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Fotografias Carlo Galliani

 

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.
 
 

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É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.
 
 

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É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.
 
 

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Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.
 
 
Poema de Eugénio de Andrade 

Opostos

21
Out21

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Colheste as flores
da tua chama
apagaste devagar
os teus sentidos
 

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sossegaste o corpo
em sua cama
desguarneceste em mim
os teus motivos
 

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que a vela acesa corte a madrugada
e lhe desdiga a calma e a palavra
Colheste devagar o meu queixume
 

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Ó meu amor!
Ó meu aceso lume!
 

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As rosas, o poema, a inversão das ideias e dos gostos, homem e mulher, com temas opostos  encontram-se  num acaso ao acaso. 

 
Poema é de Maria Teresa Horta as rosas são do aguarelista La Fe

Folha🍁

🍁

29
Set21

rafal-olbinski.jpg

Ilustração Rafal Olbinski

 

🍁
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
🍁
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?
🍁
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
🍁
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando aqueles
que não se levantarão...
🍁
Tu és folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
🍁
E vou por este caminho,
certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
 
 
Poema de Cecília Meireles