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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Pintura de várias vidas

09
Jun22

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Pintura de Paula Rego

Ontem morreu a Paula Rego, fenomenal na arte de desenhar a realidade em bruto, mas ontem também soube que morreu a Teresa, e que já lá vão quatro anos, não me lembro da cara da Teresa, nem da sua voz, há muitos anos que não nos víamos, morreu ainda jovem a Teresa, deixou três filhos que não conheço, da Teresa apenas, e é um apenas tão grande, me lembro dos dias incontáveis de brincadeiras em conjunto, das ideias infantis levadas à realidade, das corridas loucas pela encosta abaixo, tendo nas costas a Arrábida, e na direita o Sado e o Atlântico. 

Anil

07
Mar22

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Lego aos meus amigos
um azul cerúleo para voar alto
um azul cobalto para a felicidade
um azul ultramarino para estimular o espírito
um vermelhão para fazer circular o sangue alegremente
um verde musgo para acalmar os nervos
um amarelo ouro: riqueza
um violeta cobalto para sonhar
um garança que faz ouvir o violoncelo
um amarelo barite: ficção científica, brilho, resplendor
um ocre amarelo para aceitar a terra
um verde veronese para a memória da primavera
um anil para poder afinar o espírito pela tempestade
um laranja para exercer a visão de um limoeiro ao longe
um amarelo limão para a graça
um branco puro: pureza
terra de siena natural: a transmutação do ouro
um preto sumptuoso para ver Ticiano
uma terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra
uma terra de siena queimada para noção de duração.
 
 
Maria Helena Vieira da Silva
(texto encontrado nos papéis da pintora, após a sua morte)

Flores

19
Out21

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Ilustração Anne Cotterill

É surpreendente como vivem as flores através duma pintura, deixando pela mão de quem as pintou o seu perfume em modo infinito, colocadas na tela são eternizadas pelo momento, ficaram junto delas e assim capturadas: a luz daquele dia, a melancolia daquela tarde e a finitude de um pensamento.

 

 
Há sempre um anjo que vela
Sob a forma de um gesto
De uma palavra
De um sopro
De um acorde
De um abraço
De um voo súbito
De uma canção.
Ao alcance do que nem pedimos.
 
 
O poema é de Maria José de Barros