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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Verdade verdadinha

05
Mar24

IMG_20240225_110910.jpgDepois de tantos dias sem aqui escrever, eis que volto da viagem feita de silêncio e de descanso de palavras, feita de dias inteiros com exactamente vinte e quatro horas, de fins de semana com sábado e domingo. Vejo agora que foram iguais, as verdades e as mentiras, e que os dias e as noites nem sempre se assemelham àquilo que projectamos, para alguns as mentiras ditas dignamente sabem sempre a verdade. Digo dignamente como quem canta um refrão piedoso, feito de mão no peito e esmola ao pobre. Coisas do bem que fica bem, mas que não vão além.  E fico sempre admirada com tal proeza, como se fosse a primeira vez. O que me encanta afinal? Talvez a fineza de tanta leviandade, de se repetir encarecidamente que é verdade. 

Lagos

12
Dez20

lagos.jpg

Ilustração Adrian Sykes

 

Há pessoas que são como lagos, sem margens, presas na mesma paisagem, no entanto acham-se mar, no fundo o lodo dá-nos a diferença, acrescente-se  a falta de maresia. 

 

 

Contemplo o lago mudo

Que uma brisa estremece.

Não sei se penso em tudo

Ou se tudo me esquece.

 

O lago nada me diz.

Não sinto a brisa mexê-lo.

Não sei se sou feliz

Nem se desejo sê-lo.

 

Trémulos vincos risonhos

Na água adormecida.

Por que fiz eu dos sonhos

A minha única vida?

 

Poema de Fernando Pessoa

As árvores e as pessoas

15
Nov19

outono.jpg

Ilustração Alida Massari

 

 

No fundo, as árvores não são muito diferentes das pessoas. Enquanto somos jovens, os pimentos “mais viçosos”, aqueles que associamos à frondosidade da beleza (os verdes), são os que têm protagonismo. Mas o passar do tempo revela os outros, talvez menos perceptíveis, que sempre fizeram parte de nós mas que nos dão outras cores e outro tipo de beleza na meia-idade (o nosso Outono).

 

Texto do blogue Estrada de Damasco, para saberem mais visitem o blogue.

#diariodagratidao 28-05-2019

28
Mai19

árvore.jpg

 

Ilustração Shane Gallagher

 

 

Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens sem fuso horário
Homens agitados sem bússola onde repousem
Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados por todos os destinos
Desempregados das suas vidas
Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas
Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são como sítios desviados
Do lugar

 

 

 

Poema de Daniel Faria