Olhou para o rio e pensou que era diferente dos outros, as cenas que sentia nunca eram faladas, guardava para si as expressões agrestes do quotidiano, pensava ele que nas outras mentes havia uma normalidade imposta por outros raciocínios. Os rótulos impostos pela sociedade normalizada perturbavam-no, iam e vinham os pensamentos soltos e azedos. Decidiu sentar-se na relva acabada de cortar, também ela normalizada pela máquina, passou-lhe a mão pelo verde e aspirou o cheiro daquela cor esperançosa. Deitou-se, e os seus olhos ficaram a par da normalidade do corte da relva. Afinal, nada havia de normalizado naquela linha verde, havia uma aparente normalização, apenas ao primeiro olhar, depois tudo mudava, uns inclinados, outros torcidos, outros mais curtos, apenas juntos pareciam iguais, porque separados eram todos diferentes.
Alice Alfazema