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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Pescar

16
Dez20

peixe1.jpg

 

Escrever um poema
é como apanhar um peixe
com as mãos
nunca pesquei assim um peixe
mas posso falar assim
sei que nem tudo o que vem às mãos
é peixe
o peixe debate-se
tenta escapar-se
escapa-se
eu persisto
luto corpo a corpo
com o peixe
ou morremos os dois
ou nos salvamos os dois
tenho de estar atenta
tenho medo de não chegar ao fim
é uma questão de vida ou de morte
quando chego ao fim
descubro que precisei de apanhar o peixe
para me livrar do peixe
livro-me do peixe com o alívio
que não sei dizer

 

peixe.jpg

 

O poema é de Adília Lopes, as ilustrações são de Suzy Pal Powell.

Micro contos - O animal quase perfeito

21
Abr18

 

Ilustração  Andrew Baines

 

 

Um homem andava a passear o seu peixe de estimação. Aquele peixe era quase perfeito. Era silencioso e  muito brilhante, as suas escamas reflectiam a luz do sol e por vezes criavam um arco-íris que ondulava. O seu peixe tinha uma personalidade tranquila, só tinha um senão: gostava muito de água.

 

 

Alice Alfazema

 

 

 

Março dia 15 - Mulheres conserveiras

15
Mar17

 

 

 

 

Na fábrica de Leça da Palmeira, as operárias mais velhas são mais valiosas. Naqueles balcões aprenderam a enlatar à mão e a trabalhar com as máquinas.

 

São apenas quatro peixinhos numa lata, mas cada um importa na imensa cadeia de produção da fábrica de conservas mais antiga de Portugal, em Matosinhos. Dos carregadores às técnicas de controlo de qualidade, as sardinhas passam por muitas mãos até chegarem à mesa.

 

As sardinhas não entram na lata sem serem descabeçadas e perderem as vísceras. São depois encaixadas nas típicas latas rectangulares portuguesas ou vazios. E tem tudo condão feminino. De tesoura na mão, as mulheres, cortam os peixinhos para lhes dar o tamanho ideal.

 

 

 

Acomodadas as quatro inquilinas na casa de lata, é tempo de entrarem nas grelhas para cozerem a 100 graus nos fornos a vapor, entre 20 a 30 minutos, dependendo da receita.

 

Já cozidas, as sardinhas serpenteiam por carreiros para beber os molhos: azeite ou óleo ou um especial cheio de condimentos e picante. As operárias mal as reconhecem. Depois de as terem visto ‘inteirinhas’ no balcão do descabeçamento, supervisionam agora as máquinas que as fecham nas latas, as automatizadas cravadeiras. O trabalho das manipuladoras é especializado mas nada monótono, porque passam por várias fases de produção em crescendo de tecnologia.

 

 

 

Apesar da Ramirez ter sido sempre liderada por homens, são as mulheres que dominam a cadeia de produção e valem como o vinho do Porto – quanto maior for a idade mais segredos têm acumulados desta arte. Como diz Narciso Castro e Melo, secretário-geral da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe, esta “é uma indústria progressista”. Emprega sobretudo mulheres “porque são normalmente as mães que tratam dos filhos e é com esse carinho que tudo é tratado na fábrica, sem desprestígio para os homens, claro”.

 

 

Texto de Patrícia Lemos, fotografias de Paulo Cordeiro, podem ler o artigo completo aqui.

 

 

 

Alice Alfazema

 

 

Minha barca aparelhada

08
Out10

 

 

Minha barca aparelhada

solta o pano rumo ao norte;

meu desejo é passaporte

para a fronteira fechada.

Não há ventos que não prestem

nem marés que não convenham,

nem forças que me molestem,

correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,

que a Natureza sou eu,

e as forças da Natureza

nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!

Que a barca se fez ao mar.

Não há poder que me vença.

Mesmo morto hei-de passar.

Com licença! Com licença!

Com rumo à Estrela Polar.

 

António Gedeão