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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Repensar

13
Jun21

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Ilustração Anna Silivonchik

Pensar tem sido nos últimos tempos reduzido a poucos temas, sendo que o medo corroi qualquer tipo de vontade, e o que temos vivido já há muitos meses é um misto de medo e stress, dois grandes monstros destruidores de personalidade.  Como é sabido o cérebro precisa de se manter activo, tal como qualquer outro músculo, através dos hábitos que temos, assim se reduzirmos estes a duas ou três acções é natural que nos tornemos menos eficientes, julgando até que perdemos muitas das nossas capacidades. 

E o que resta é erguermo-nos e voltar a fazer uma e outra vez até que o medo se acabe, tal como um menino que começa a andar sem conhecer aquilo que lhe espera. 

 

 

Ainda ontem pensava que não era mais do que um fragmento trêmulo sem ritmo na esfera da vida. Hoje sei que sou eu a esfera, e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim. Eles dizem-me no seu despertar: " Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia sobre a margem infinita de um mar infinito." E no meu sonho eu respondo-lhes: "Eu sou o mar infinito, e todos os mundos não passam de grãos de areia sobre a minha margem." Só uma vez fiquei mudo. Foi quando um homem me perguntou: "Quem és tu?"  

Gibran Khalil Gibran

 Gibran Khalil Gibran

 Gibran Kha Gibran Khalil Gibranlil Gibran

 

Parece que o maior problema de Portugal são os portugueses

30
Mai21

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Ilustração  Peter Gut

Há muito, muito tempo, na era do covid, num país chamado Portugal, onde viviam cerca de dez milhões de habitantes, as pessoas foram obrigadas por lei a usar máscara enquanto andavam nas ruas das cidades e das vilas, era assim que estava estipulada a melhor maneira de conter a disseminação do vírus, quem não cumprisse poderia incorrer numa multa valente, mas depois vieram os ingleses  e os empregados de mesa viveram felizes para sempre. 

Em estado líquido

21
Jan21

chá ou café.jpg

Ilustração Calita

Agora é tudo a líquido, muito chá, algum café, e água, até os pensamentos estão líquidos, que de tão aguados que andam nem chegam a lógicos. É boiar, é boiar minha gente, até que maré amanse. E quando eles jorrarem em torrente descontrolada é encontrar um lugar seguro acima da corrente, é fintar a tristeza, o desânimo, a opacidade dos dias, por vezes não se sabendo como, apenas esperando que o dia acabe, e que venham muitos dias depois, e mais e mais, até que perfaça um mês, e outro, e ainda mais um, somando mais dois, multiplicar por três, e talvez chegue depressa o tempo de curar as feridas.