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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Daqui até ao Natal -2

20
Ago24

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Hoje pela hora do almoço, indo eu a andar e a ver como param as modas, eis que pela minha frente um homem jovem vem empurrando um carrinho de bebé, com uma mão empurra o carro, com a outra consulta o telemóvel, eu olho de lince...vejo que a criança está a escorregar pela cadeira, já tendo parte do corpo fora dela, digo-lhe então que o bebé está a cair, ele não liga, ou não percebe, não sei bem, como o homem não reage chego-me à frente e empurro um pouco a criancinha para cima, aí o homem parece acordar do coma e vê finalmente o que estou a tentar dizer-lhe, então rapidamente puxa mais a criança para cima, mas como não me dou por vencida facilmente, coloco um braço da criança na alça da cadeira e explico, como se não fosse óbvio que aquilo tem de estar a prender braços e pernas, acho que ouvi o homem dizer obrigado, mas o que me fascinou foi o miúdo esticar a mão para mim e dar-me um "passou bem" em jeito de agradecimento. Não teria mais de oito meses, entretanto a minha amiga esperava-me mais à frente para continuarmos a ver as montras.

Nota: se a minha filha estivesse comigo iria dar-me o sermão do costume: (...) as pessoas podem não gostar(...) não deves fazer isso(...)

Ainda olhei para trás para confirmar se o homem estava ou não a prender a criancinha. 

Presença

06
Jun19

 

pescador.jpg

Fotografia Artur Pastor

 

Há no mar uma presença que me chama, são vozes vindas de longe, de muito longe, onde a minha alma liquida quereria chegar. Não sei localizá-las, apenas as sinto. Estarão brincando nas ondas? Ou em águas profundas? No meio de tempestades? Ou em mares cristalinos? Sinto o sal na boca e nos dentes, incham-me os lábios da salmoura. Fico assim durante horas. É como se o mar falasse por mim.

 

Aquelas águas escuras fazem-me sonhar com mil mundos ali debaixo. É fria a água, como a morte. Tenho medo de nadar ali, mas gosto de ficar parada a olhar e a imaginar o que ali se passa.

 

Estou a boiar, a água abraça-me, acolhe-me naquela presença que sinto, onde estão meus avós e meu pai que navegaram nestas águas. Nunca me disserem que tinham medo de tempestades. Uns valentões, que navegavam em tábuas pintadas de cores garridas. 

 

Contavam aventuras de gaivotas que perseguiam os barcos, de golfinhos saltitantes, de peixes escamudos, de dias de muito sol, de sentir as pernas bambas de tanto puxar a rede. Nunca falavam do desgosto da rede vazia, amanhã era outro dia. Nova faina, novo mar, outro sol, outra esperança.

 

#diariodagratidao 03-04-2019

03
Abr19

restos de praia 1.JPG

 

Hoje houve uma frase que o meu marido disse ao pai que me emocionou, já a tinha ouvido, mas hoje registei-a de outra forma, olhei para os dois juntos, tenho feito isto muitas vezes, pai e filho, da mesma altura, com o mesmo andar gingão, o filho com a mão sobre os ombros do pai. Olhei para o sol que se punha por detrás do edifício, para o caramanchão de hera verdejante, para as rosas e malmequeres amarelos, há alfazema à porta, algumas árvores floridas. Aquele é um lugar tranquilo e soalheiro. Os dois atravessaram a porta de entrada. Na porta um enorme papel a dizer: puxe.

 

- Vá lá pai, venha com o filho.