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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Farol

14
Ago20

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Debruado numa nesga de terra

ergues-te altaneiro e vigilante

sobre o mar calmo ou revoltoso

irradiando a salvífica luz oscilante.

 

 

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Desde tempos imemoriais

resgatas do destino incerto

a precária condição dos mortais

que ousam cruzar o mar aberto.

 

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O que seria de quem

incessantemente

procura conhecer o mundo

sem o clarão precioso

da esperança

de chegar a bom porto,

finalmente.

 

 

Poema Daniel Bastos, in Terra, Farol de Luz

 

 

Um punhado de terra

24
Mai20

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Tenho um punhado de terra já exausta, cultivei tantas coisas nela e durante tanto tempo que anulei por completo a sua reprodução, fartei-me de a regar, mas a terra era sempre a mesma,  as culturas não nasciam, ou então cresciam raquíticas e sem sabor. Foi longo o período em que estive em busca de encontrar as soluções para que tudo aquilo tivesse um final fim feliz, culpava a terra, as sementes, a água, o Sol, o vento, a chuva, o frio. Nem me lembrava que a agricultora era eu, as escolhas eram as minhas, o tempo era o meu. Um dia fartei-me daquela terra e olhei à minha volta, havia tanta terra bravia por descobrir. Montanhas, vales, planícies. Porque continuava eu ali a tentar obter algo quando o que via não me levava a nada? 

 

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Um punhado de pó,

um punhado de terra,

um punhado de vida,

por cada um - três actos.

 

Em cada acto uma verdade,

de trás para a frente,

em linha,

a coberto e a descoberto.

 

Um mundo por inventar,

para descobrir, 

ousar,

um punhado de tudo.

 

 

Ilustrações são de Hannah Lock

Pensar apenas em nós próprios...

22
Mai16

Ousar pensar apenas em nós próprios é um terreno delicado, pleno de nuances, onde a liberdade, atrevida, pode ser epitetada de irresponsável ou, até mesmo, de egoísta. Contudo, à altura, ninguém se apercebeu do meu estado de necessidade. Perdido e sozinho já eu estava há muito; preso e camuflado, também. Diz-se aos sete ventos que não adianta fugir dos problemas, pois eles nos acompanham para onde quer que vamos. Também não digo o contrário, mas a evasão não é fugir, é a árdua arte de separação entre o que é e o que não é; o que somos e não fomos, o que perdemos e podemos encontrar, o que nos é essencial e dispensável. Sim, é um limbo, uma linha divisória que separa os pés do chão das ânsias do céu.

 

Paulo Abreu e Lima, no blogue, Assim na Terra como no Céu.

 

 

 

Alice Alfazema