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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

O homem do talho

13
Jan19

Enquanto espero pela minha vez entretenho-me a observar o homem do talho. É baixo, moreno, tem umas sobrancelhas grossas e escuras e umas mãos grandes e tortas. Desde  à algum tempo que olho para as mãos do homem do talho, tem uma luva de malha de aço, quase um cavaleiro da época Medieval, trás a faca na mão, qual espada em riste, e desfere golpes rápidos e certeiros nos ossos do entrecosto.

 

É possível que lhe doam as mãos, os seus dedos estão deformados. As mãos muito vermelhas. Quando coloca a mão dentro da luva de malha de aço fá-lo com cuidado, depois coloca um elástico por cima da malha, para prender melhor a luva e não atrapalha-lo com a faca.

 

São horas e horas a cortar carne, anos a fio, ossos, peles, gorduras, carnes finas, carnes rijas, gente que quer assim, gente que quer assado. Deduzo que ganha uma miséria, possivelmente nunca terá outra profissão. 

 

A fila de gente que espera adensa-se e as suas dores também, vejo-lhe na cara um vago sofrimento, franze a testa quando maneja a faca. Ninguém parece ver isso. Atarefados olham para o tempo que o homem do talho demora a cortar a carne. Bom-dia! Em que posso ajudar?