desenterrei do meu baú a pipa
construída num sonho. percebi
que não sei pedalar em linha reta,
que tenho nos joelhos uma fissura
de loucura de viver em mar aberto.
sinto saudade do seu nome
como quem tira as botas ensanguentadas
ao regressar da guerra. mergulho
meu peito palácio em água fervente
e admiro religiosamente a foto
que consta no rg recém fraudado.
é preciso dizer aos viajantes
que as dunas são proibidas
embora bonitas. assim como
fechar os olhos ao sentar no colo de alguém
ou pensar mais de três vezes
por dia em quem te puxou
pra dançar. é proibido amar,
é proibido soprar um dente de leão
pra espantar o medo.
assim como é proibido encontrar
e lamber com vontade o mar aberto que existe
no meio de cada pessoa. a sorte
é que nesse momento, diante da cerca elétrica,
da placa, da assinatura de autoridade,
finjo não saber ler
absolutamente nada
Poema de Regina Azevedo