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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

E hoje o Verão veio nos visitar

2021

21
Jun21

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Sempre sonhei em andar nas nuvens, escorregar naqueles flocos, saltitar de uns para outros, apreciar a vista de lá de cima, aproveitar o vento para ser transportada para lugares longínquos, encontrar-me com pássaros que vão em viagem procurando a continuidade da espécie. 

 

Vai alta a nuvem que passa,
Branca, desfaz-se a passar,
Até que parece no ar
Sombra branca que esvoaça.

 

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Quem nunca brincou de ver figuras nas nuvens? Quem nunca imaginou comer um pedaço de nuvem como se come algodão doce. 

 

Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar. Por que
havemos de ser unicamente
humanos, limitados em chorar?

 

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E o que mais dizemos por estes tempos conturbados pela perda da nossa Liberdade: os dias são agora são todos iguais. Mentira, dias são como as nuvens.

 

São as nuvens celestes, as deusas patronas do leigo. Deles vem nossa inteligência, nossa dialéctica e nossa razão.

 

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Quando imaginamos estamos mais perto de acreditarmos. 

 

 olhos tropeçando nas nuvens, aturdidos de alegria

 

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E seria tão fácil atravessar o rio no cimo de uma nuvem para aproveitar os últimos raios de sol.

 

Se há um plural de nuvens e se há sombras
projetadas no texto das cavernas,
por que não mergulhar, tentar nas ondas
a refração dos peixes e das pedras?

 

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O que seria de nós sem as nuvens? 

 

Não há uma só coisa que não seja
nuvem. Assim são essas catedrais
de vasta pedra e bíblicos cristais
que o tempo alisa.

 

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E em cada segundo que passa a paisagem se tranforma, nesse manto vivo a vontade sobrada do vento.

 

Vento vele sopre
nas nuvens
abra caminhos onde me faço
plena em suas mãos.

 

A olhar o céu

20
Jul19

Por vezes os nossos pensamentos são como as nuvens, são muitos, são dispersos, são pesados, são flocos levezinhos e distantes uns dos outros, são únicos. À medida que o tempo passa o cenário muda, quer seja porque está vento, ou muito calor, ou é Inverno, ou Primavera.

 

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Observar a Natureza é das melhores coisas da nossa vida, quem nunca experimentou deveria de o fazer, pois são tantos os pormenores, tantas as cores, tantos os cheiros e tantas as emoções que recebemos daí. Caminhar entre as árvores, receber um banho de sol, ou sentir o sabor do mar, provoca em nós sensações de bem-estar que está ao alcance de cada um dar esse passo e sentir essa harmonia que não é instantânea, mas é mágica.

 

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E são as nuvens pensamentos da Terra? Mensagens que desconhecemos? O que sentes quando olhas as nuvens? Quando uma te tapa o sol? Quando largam água? Ou quando jorram relâmpagos?

 

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Vai alta a nuvem que passa,
Branca, desfaz-se a passar,
Até que parece no ar
Sombra branca que esvoaça.

Assim no pensamento
Alta vai a intuição,
Mas desfaz-se em sonho vão
Ou em vago sentimento.

E se quero recordar
O que foi, nuvem ou sentido
Só vejo alma ou céu despido
Do que se desfez no ar.

 

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As nuvens vão e vêm, tal como os pensamentos e as acções, dias ensombrados, negros, dias de vida plena e alegria. As nuvens têm cores e expressões de alegria e tristeza, de raiva e de tranquilidade, coisas do espírito,  marcas de algum lugar. Nuvens de montanha, de mar, de desertos, estão na cidade ou no campo. 

 

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Ver as nuvens em conjunto com alguém ou sozinho? As sensações serão as mesmas? O que sentimos é apenas nosso? Não conseguimos transmiti-lo aos outros? Veremos as nuvens das mesmas cores? Pensaremos nas mesmas coisas? 

 

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As respostas estão em cada um de nós, diferentes, não como num teste. São liberdade, as nuvens, são como sensações flutuantes, amigas do vento e primas do mar. São algodão do céu, que se espalha para fazer curativos emocionais. São catedrais que se esfumam e se voltam a reconstruir, são instantes únicos e irrepetíveis. São pensamentos que voam e ficam esquecidos.

 

 

 

As ilustrações são de Ian Fisher e o poema é de Fernando Pessoa