Quebrar rotinas
Árvore de Natal
A primeira notícia da Quimera está no livro sexto da Ilíada. Está aí escrito que era de linhagem divina e que na frente era um leão, no meio uma cabra e atrás uma serpente, deitava fogo pela boca e foi morta pelo formoso Belerofonte, filho de Glauco, como os deuses pressagiaram. Cabeça de leão, ventre de cabra e cauda de serpente, é a interpretação mais natural que admitem as palavras de Homero, mas a Teogonia de Hesíodo descreve-a com três cabeças e é assim que está representada no célebre bronze de Arécio, que data do século V. Na metade do lombo está a cabeça de cabra, numa extremidade a da serpente, na outra a de leão. (…) Plutarco tinha sugerido que Quimera era o nome de um capitão com vocação de pirata, que tinha mandado pintar no seu barco um leão, uma cabra e uma cobra. Estas conjecturas absurdas provam que a Quimera já estava a cansar as pessoas e melhor do que imaginá-la era traduzi-la em qualquer outra coisa. Era demasiado heterogénea; o leão, a cabra e a serpente (nalguns textos, o dragão) resistiam a formar um único animal. Com o tempo, a Quimera tende a ser «o quimérico»; (…) A incoerente forma desaparece e a palavra fica para significar o impossível. «Ideia falsa», «pura imaginação», é a definição de Quimera que agora dá o dicionário.
Jorge Luís Borges, in O Livro dos Seres Imaginários