Do desejo
Ilustração Lara Paulussen
Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.
Hilda Hilst
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Ilustração Lara Paulussen
Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.
Hilda Hilst
Ilustração Tomomi Yoshizawa
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Se perguntássemos ao poeta o que ele pensa do mundo, ele responderia:
Não sei. Pra mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas)
Sendo assim, sua negação à metafísica fica enfatizada quando o poeta nos pergunta:
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber pra que vivem
Nem saber o que não sabem?
Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa.
Por hoje tudo se resume a nada, sempre em função dos outros, daqui e dali.
Há tempos li uma história, que me parece cada vez mais actual, presos a tudo, por nada. Por medo não faço, por aquilo que os outros pensam não digo, qual estaca que prende o elefante...
"Quando era pequeno, adorava o circo e aquilo de que mais gostava era os animais. Cativava-me especialmente o elefante, durante o espectaculo, a enorme criatura dava mostras de ter um peso, tamanho e força descomunais...Mas depois da sua actuação e pouco antes de voltar para os bastidores, o elefante ficava sempre atado a uma pequena estaca cravada no solo, com uma corrente a agrilhoar-lhe uma das suas patas.
No entanto, a estaca não passava de um minusculo pedaço de madeira enterrado uns centimetros no solo. É obvio que um animal capaz de arrancar arvores pela raiz, também o pudesse fazer à estaca.
Porque é que não foge?
O que o prende então?
O elefante do circo não foge porque esteve atado a uma estaca desde que era muito, muito pequeno.
in Jorge Bucay