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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Árvore Europeia do ano 2018

09
Fev18

Sabiam que há um concurso para eleger a árvore europeia do ano? Eu não sabia. E como sou fascinada por árvores adorei saber. Eis aqui as árvores finalistas deste ano e as suas histórias de vida:

 
 
A Tília de folhas pequenas que tem a bonita idade de quatrocentos anos e vive na região de Bioul, Valónia, Bélgica. Reparem na figura humana ao pé deste majestoso e gigante exemplar. Tão pequenina a senhora que posa para a fotografia. Faz-me pensar, mais uma vez, que somos apenas uma insignificância neste nosso mundo.

 

 

 

A tília de Vî Payîs ("País Antigo") em Bioul, a maior tília de folhas pequenas do país, é uma das árvores mais marcantes da Valónia. Os papéis que lhe foram atribuídos, como nobreza ou marco, desapareceram ao longo do tempo. O facto desta árvore ter resistido a todos os assaltos e ameaças só pode ser entendido como um desejo coletivo de preservá-la como símbolo ou parte de memória. Continua a ser objeto de atenção e admiração pela população.

 

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Agora a concorrente Sequóia gigante, com cento e trinta anos que vive na região de Kyustendil, na Vila de Bogoslov e que se situa na Bulgária:

 

 

 

 

3 magníficas sequóias gigantes encontram-se localizadas perto da aldeia de Bogoslov em Kyustendil. Fazem parte de uma floresta de sequóias e são um fenómeno natural. As sementes de sequóia foram trazidas pela primeira vez para a Bulgária pelo famoso silvicultor Yordan Mitrev, no final do século XIX. Estas são as sequóias mais antigas e mais altas da Bulgária. Elas têm um papel importante na história florestal. Muitas pessoas da região e do país visitam o local para abraçar as árvores e beneficiarem da sua energia.

 

 

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De seguida apresento-vos o imponente Plátano-Oriental, tem mais de quinhentos anos de vida e mora na cidade de Dubrovnik na República da Croácia:

 

 

O plátano maciço, símbolo do Trsteno, é um monumento arquitetónico protegido. A sua beleza, tamanho e idade tornam-no uma popular atração turística. No início do século XV, a árvore ainda jovem foi trazido de Constantinopla pelo capitão Florio Jakob Antunov, que a plantou perto de uma nascente. A árvore sobreviveu a todos os possíveis conquistadores - invasores turcos, exército de Napoleão e tropas russas - graças ao clima ameno, à nascente revigorante e ao cuidado dos moradores encarregados de sua sobrevivência.

 

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Eis outro forte concorrente ao titulo, a Nogueira-Preta, duzentos e trinta anos de vida e vive na região de Zlín, Kvasice, na República Checa:

 

 

Em 1790, Jan Nepomuk, Conde de Lamberg fundou um parque onde, entre outras árvores, plantou uma nogueira-preta. Leopoldina Thun, condessa de Lamberg, construíu uma capela de madeira sob a árvore, em memória de seu pai que se afogou no rio Morava. Após a abertura do parque ao público, o lugar tornou-se um destino frequente de visitas espirituais. A árvore esteve em más condições devido a inundações em 1997, quando o parque ficou submerso. Contudo, graças à intervenção de profissionais, a nogueira recuperou e continua a ser a pedra preciosa do parque.

 

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De seguida deixo-vos com este magnifico Castanheiro, que tem a idade de trezentos anos e mora na Hungria em Zengövárkony, Southern.

 

 

Zengővárkony é muito conhecida pela sua floresta ancestral de castanheiros, que envolve a pequena aldeia de 400 habitantes. A castanha foi a fonte de riqueza para os habitantes locais razão do seu carinho para com as árvores. À medida que os séculos passaram, a árvore sobreviveu ao cancro do castanheiro, à nacionalização após a guerra tendo sido,inclusivamente, incendiada num inverno frio. Para os locais, o castanheiro de 300 anos de idade é o símbolo da continuidade e seu desejo de viver transmite-lhes força.
 
 
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Ora aqui está mais um possível vencedor, o Abeto, tem cento e setenta anos de vida e mora na florestadeVilkyskiai, no município dePagegiai naLituania.
 
 

 

 
O Abeto das Bruxas tem 34 m de altura, os seus 18 troncos (um dos quais quebrado em 2007 durante uma tempestade) ramificaram-se a 80 cm, dando a aparência de cabelos bruxa emaranhados. Uma lenda diz que a vassoura da bruxa se transformou na árvore porque ela conheceu um homem local de que gostava e esqueceu-se de ir buscar a vassoura antes da meia-noite. Outra história conta que Napoleão cortou o topo de um pequeno abeto enquanto cavalgava resultando na forma estranha. Muitas lendas foram capturadas em desenhos infantis.
 
 
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Passo agora a mais um bonito concorrente o Helena é um Choupo-Negro tem a idade duzentos e vinte anos e vive emHel, na província dePomorskie,  Polónia.
 
 

 

Helena, um monumento natural, fica na parte mais bonita da Polónia, única na Europa. O nome do choupo não foi escolhido aleatoriamente. Enfatiza a identidade do lugar onde cresce. A árvore testemunhou muitos eventos e transformações na comunidade de Hel. A sua vida está relacionada com o drama da guerra e à defesa heróica de Hel. Como a rainha da paisagem circundante, as torres de choupos alinham-se majestosamente ao longo do caminho que conduz à península. 

 

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Eis agora o concorrente português, o tranquilo Assobiador, um Sobreiro, tem a bonita idade de duzentos e trinta e quatro anos e vive em Águas de Moura, no Alentejo, Portugal.

 

 

 

O Assobiador deve o nome ao som originado pelas inúmeras aves que pousam nos seus ramos. Plantado em 1783 em Águas de Moura, este sobreiro já foi descortiçado mais de vinte vezes. Além do contributo para a indústria, é impossível quantificar o seu impacto na manutenção do ecossistema e no combate ao aquecimento global. Com 234 anos, o Assobiador está classificado como “Árvore de Interesse Público” desde 1988 e e inscrito no Livro de Recordes do Guinness como "o maior sobreiro do mundo"!

 

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Vamos então passar a mais um fantástico resistente deste nosso mundo, o Carvalho de Cajvana, que tem cerca de setecentos e cinquenta anos, mora na cidade de Cajvana que fica no condado de Suceava na Roménia:

 

 

Os habitantes locais acreditam que esta árvore data do tempo da grande invasão tatar (1241), quando todas as pessoas da região morreram na batalha. Eles teriam sido enterrados numa vala comum, no local do qual este carvalho foi plantado. De acordo com outra lenda, em 1476, o príncipe moldavo Stefan cel Mare, acompanhado por dos seus soldados, descansou à sombra desta árvore, onde lhes foi servido um queijo fresco - caş em romeno, daí o nome Cajvana.

 

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Eis mais um extraordinário Carvalho-Comum, com cento e oitenta e oito anos, vive na Vila de Dubovoye, Região de Belgorod, na Federação Russa.

 

 

 

Este carvalho cresce numa área de proteção ambiental especial. É um Monumento do Património Natural Nacional que testemunhou vários eventos históricos. Sob a sua copa realizaram-se eventos públicos e celebrações. Esta árvore é objeto de admiração especial para as crianças. Para eles, o carvalho é um símbolo de amizade, saúde e memória de seus antepassados. Eles organizam flash-mobs para formar um coração à volta da árvore e enviar ondas de paz e bondade para todas as pessoas do planeta.

 

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Outro finalista deste concurso, a Macieira de Bosáca, cento e vinte anos de vida e vive na Eslováquia.
 

 
A antiga macieira é um monumento dos comerciantes de fruta, cujas árvores crescem e dão frutos por mais de cem anos. Trata-se de uma variedade regional pouco conhecida, rara e atualmente quase esquecida. Hoje, a árvore tem um tronco bonito com várias cicatrizes. Mas, apesar dos seus danos, tem uma vitalidade interna incrível. Floresce ricamente na primavera e fornece uma colheita abundante de maçãs no outono, que dura até o verão seguinte. Quando nos sentamos à sua sombra, podemos aprender com o seu exemplo a nunca desistir e enfrentar os desafios da vida.
 
 
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De Espanha vêm estes sete incríveis Ulmeiros, que têm quatrocentos e cinquenta anos de vida, vivem naCabezaBuey, Badajoz, Espanha.
 

 

Estes 7 ulmeiros ancestrais são considerados a última representação das florestas urbanas de ulmeiros da Extremadura. Apesar da ameaça da grafiose do ulmeiro (uma doença que matou mais de 1 milhão de árvores em Espanha e mais de 1 bilhão no mundo), estas árvores conseguiram permanecer de pé, nos arredores da ermida do Santuário de Nossa Senhora de Belém, de grande valor histórico artístico e com origem templária. Nesta área, é celebrada uma antiga peregrinação desde 1650.

 

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E por último mais um Carvalho, tem entre quatrocentos e cinquenta a quinhentos e cinquenta anos de vida, mora em Londres na Inglaterra.
 
 

O carvalho Gilwell Oak é sinónimo de escutismo. Situa-se no coração de Gilwell Park em Epping, o lar do movimento escuteiro concebido por Robert Baden Powell. O grande carvalho foi adotado por Powell como uma ótima analogia em 1929, não só pelo crescimento do movimento de escutismo em todo o mundo, que começou com um pequeno campo experimental cerca de 21 anos antes, mas como uma mensagem aos jovens escuteiros de que as grandes feitos são possíveis a partir de inícios modestos.

 

 

Assim chegamos ao fim da apresentação das árvores finalistas, as fotografias e as histórias da árvores foram retiradas do site onde podem votar para eleger o vencedor, podem também ver mais detalhes sobre estes sobreviventes, resilentes e grandiosos.

 

 

 

Para votar e saber mais: Árvore Europeia do Ano 2018 As votações realizar-se-ão entre o dia 1 e 28 de Fevereiro de 2018. 

 

 

 

Alice Alfazema

 

 
 
 

Março dia 5 - Mulheres que plantam árvores

05
Mar17

 

 

A terra estava despida. Para mim, a missão era tentar voltar a cobri-la de verde.

 

Wangari Maathai

 

 

Wangari vive sob as árvores, à sombra do Monte Quénia, em África. Ouve o cantar dos pássaros na floresta, sempre que vai com a mãe buscar lenha para cozinhar, e ajuda-a apanhar as batatas-doces, a cana-de-açúcar e o milho da terra fértil.

 

Wangari é boa aluna e, quando cresce, alta como as árvores do bosque, ganha uma bolsa para estudar nos Estados Unidos. Seis anos depois, acabado o curso, regressa a casa, no Quénia, e vê que entretanto muita coisa mudara. “O que aconteceu?”, interroga-se. “Onde estão as árvores?” Wangari vê as mulheres curvadas sob o peso da lenha que tiveram de ir buscar a quilómetros e quilómetros de casa. Vê a terra despida, em que nada cresce. “Onde estão os pássaros?” Milhares de árvores foram cortadas para construir edifícios, mas ninguém plantara novas árvores em substituição. “O Quénia inteiro irá converter-se num deserto?”, pergunta-se.

 

Wangari pensa na terra seca. “Posso começar por semear algumas árvores aqui no meu quintal, uma a uma”. Começa com nove. Ao ver os pequenos caules ganhar raízes, Wangari enche-se de ânimo para continuar a plantar e inicia um viveiro.

 

Num descampado, Wangari planta pequenas árvores, fiada atrás de fiada. Em seguida, convence as mulheres das aldeias de que plantar árvores é algo de bom. Dá uma pequena árvore a cada uma. — Verão que nossa vida será melhor quando voltarmos de novo a ter árvores. Estamos a lançar à terra sementes de esperança. As mulheres espalham-se pelas suas aldeias e plantam longas fiadas de pequeninas árvores que se estendem como um cinto verde por todo o campo.

 

Os funcionários do governo riem-se. — As mulheres não são capazes de o fazer — dizem eles. — Só os serviços florestais é que sabem plantar árvores. As mulheres ignoram a troça e continuam a plantar. Wangari paga-lhes uma pequena quantia por cada planta que tenha pegado ao fim de três meses depois da plantação. É a primeira vez na vida que ganham dinheiro.

 

 

A palavra corre como o murmúrio do vento entre a ramagem: o verde voltou à aldeia de Wangari. Depressa as mulheres de outras cidades, aldeias e povoados do Quénia começam também a plantar longas fiadas de pequenas árvores. Porém, o abate não para. Wangari opõe-se, firme como um carvalho, a fim de proteger as velhas árvores que ainda restam. — Precisamos mais de um parque verde do que de um prédio de escritórios. Mas os funcionários do governo não estão de acordo. Wangari impede-lhes a passagem. É presa e metida na cadeia, sob a acusação de ser uma agitadora. Mantém-se firme. “O que é correto é correto, mesmo que se fique só”. Mas Wangari não está só.

 

O seu apelo a favor das árvores espalha-se por toda a África, como as ondas na água do lago Vitória. Muitas mulheres inteiram-se da notícia e plantam ainda mais árvores, em fiadas cada vez mais longas. Os caules ganham raízes e crescem bem alto, a ponto de haver mais de trinta milhões de árvores onde antes não havia nenhuma. A floresta verde do Quénia renasce.

 

As mulheres já caminham de cabeça erguida e costas direitas, agora que podem apanhar lenha perto de casa. A terra já não está seca. Batata-doce, cana-de-açúcar e milho crescem de novo na terra escura e fértil. No mundo inteiro ouve-se falar das árvores de Wangari e do seu exército de mulheres plantadoras. E quem subir ao cume do Monte Quénia verá milhões de árvores a crescer lá em baixo, o verde que Wangari fez renascer em África.

 

 

 

Jeanette Winter, Wangari y los árboles de la paz Barcelona, Ediciones Ekaré, 2009 (Tradução e adaptação)

 

 

 

 

Biografia:

Wangari Maathai nasceu em 1940 no Ihithe, uma pequena aldeia na verde e fértil terra do Quénia, era uma estudante brilhante e ganhou a “bolsa de estudos Kennedy,” o que lhe permitiu tirar uma licenciatura e um mestrado em Ciências Biológicas nos Estados Unidos.

 

Regressou ao Quénia para concluir os estudos na Universidade de Nairobi. Foi a primeira mulher na África Oriental a tirar um doutoramento.

 

Professora universitária. Wangari iniciou o Movimento Verde do Quénia em 1977, no Dia Mundial do Meio Ambiente, plantando nove pequenas árvores no quintal atrás da sua casa. Foi a primeira ação para contrabalançar a massiva desflorestação do país.

 

Com a falta de árvores, a vida diária do campo mudara, especialmente para as mulheres: a lenha para casa era escassa, a terra estava em erosão e empobrecida e não havia água potável. O deserto avançava, arrasando campos onde outrora houvera árvores e colheitas abundantes.

 

Wangari recrutou mulheres da sua aldeia para a ajudarem a plantar mais árvores. Em 2004 já se tinham plantado trinta milhões de árvores, havia seis mil viveiros no Quénia, oitenta mil famílias viram os seus rendimentos aumentados e o movimento já se tinha estendido a trinta países africanos.

 

Wangari Maathai ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2004 pelo seu contributo para a paz no mundo através do Movimento Verde. Na tradição africana, a árvore é um símbolo de paz. Ao saber que tinha ganho o prémio, Wangari plantou no sopé do Monte Quénia uma Nandi flame, uma árvore autóctone africana. No seu discurso de aceitação do Prémio Nobel, disse:

 

 

Temos de curar as feridas da Terra... Só assim curaremos as nossas próprias feridas. Temos de abraçar a criação em toda a sua diversidade, beleza e maravilha.

 

 

 

Texto retirado daqui.

 

 

Alice Alfazema