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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Saúde Mental

Árvore de Natal

11
Dez22

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Ilustração Alice Wellinger

Na teoria a saúde mental é muito falada, estudos, artigos de opinião, livros, especialistas, depois é o que se vê na prática, pode-se dizer quase tudo sobre uma pessoa a troco de visualizações, dinheiro, e pura maldade. Há também outra variante, que são as pessoas que se consideram muito francas, que se dizem sem filtros, para mim não são mais do que meros tolos, pois dizem tudo sem pensar, disfarçados pela capa de francos e sinceros, espalham a sua maldade a seu belo prazer, parece que é moda desrespeitar os outros, desde que seja na base da franqueza, coisa reles que alastra e é fácil fazer.

 

No meu sonho desfilam as visões, 
Espectros dos meus próprios pensamentos,
Como um bando levado pelos ventos, 
Arrebatado em vastos turbilhões... 

Numa espiral, de estranhas contorções, 
E donde saem gritos e lamentos, 
Vejo-os passar, em grupos nevoentos, 
Distingo-lhes, a espaços, as feições... 

‑ Fantasmas de mim mesmo e da minha alma, 
Que me fitais com formidável calma, 
Levados na onda turva do escarcéu, 

Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes? 
Quem sois, visões misérrimas e atrozes? 
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...

Poema Antero de Quental

 

  

 

direitos humanos

direito do ambiente

24
Nov22

Nos últimos dias temos assistido pela televisão ao falatório sobre aquilo que são os direitos humanos, as explicações resumem-se a breves minutos onde se fala sobre o Mundial de Futebol realizado no Catar, fala-se à boca pequena na morte de milhares de homens por acidentes de trabalho durante a construção dos estádios de futebol, fala-se timidamente na escravidão que é imposta aos trabalhadores domésticos (sem horários nem pausas), tudo isto é intercalado com imagens do luxo existente em vários locais, com a beleza exuberante dos arranha céus e das largas avenidas que deixam antever o Deserto. Entretanto, passamos para a realidade portuguesa onde o assunto tem sido relatado nalgumas plantações agrícolas existentes no Alentejo, os trabalhadores são na sua maioria homens oriundos de países asiáticos, curiosamente o mesmo tipo de trabalhadores que são referidos no Catar, aqui já temos um factor comum de onde vem a mão de obra mais barata actualmente.

Vê-se em imagens televisivas que reportam à pacatez do Alentejo as casas para acolherem estes emigrantes, é referido que  são alugadas à parcela, por cama, em cada quarto chegam a estar mais de cinco homens vindos não se sabe bem de onde, sabe-se no entanto que nos seus países foram recrutados para realizarem trabalhos na agricultura, assim e não sendo necessário experiência ou conhecimento da língua materna é relativamente fácil conseguir-se um emprego aqui, no entanto também se sabe que esses trabalhadores são vitimas de máfias que os recrutam no país de origem e lhes facultam alojamento, assim sem rede de apoio, num país estrangeiro, sem recursos financeiros, sem conhecerem a língua são trabalhadores apetecíveis tanto para os recrutadores como para os empregadores que visam o lucro fácil.

A bandeira do trabalho digno? Talvez devesse ser hasteada em empresas que o praticam. 

Pergunto-me,  qual a diferença entre uns e outros? Será o país que os acolhe? 

Pergunto-me ainda, quem se interessa pelo mar de plástico criado pelas plantações cultivadas em estufa? onde metros e metros quadrados de ecossistemas existentes foram arrasados, tendo em conta a economia local e a criação de emprego, mas e quando este emprego criado não é contratado de forma digna, não interessa? Olha-se para o lado e continua-se? E a destruição dos habitats em zonas de Parque Natural? Não é uma violação do direito ambiental e animal, e biodiversidade na sua vasta dimensão, indo contra natura às gerações futuras. E os furos de água? A água não é um bem escasso que deveria ser gerido em prol de todos, e não apenas de alguns? E o abate de carvalhos e pinheiros mansos centenários, ali para as bandas de Grândola, para a criação de pomares de tangerinas que serão vendidas em Espanha? Aliás o que se passa ali para a zona de Troia e Comporta não diz respeito a ninguém, construções em cima de dunas supostamente protegidas, com fauna e flora sensível à intensificação humana. E ainda, à criação de um recife, em zona de pesca do cerco, são tantos atropelos, que é-me impossível enumera-los a todos, mas é como diz o outro "isso agora não interessa nada".

Para que temos um Ministério do Ambiente?

Missão:

A Secretaria-Geral do Ambiente (SGAmbiente) é um serviço central da administração direta do Estado, dotado de autonomia administrativa.

A SGAmbiente tem por missão garantir o apoio à formulação de políticas, ao planeamento estratégico e operacional, à atuação do Governo daárea do Ambiente e Ação Climática no âmbito internacional, à aplicação do direito europeu e à elaboração do orçamento, assegurar a gestão de programas de financiamento internacional e europeu a cargo do Ambiente e Ação Climática, bem como assegurar o apoio técnico e administrativo aos gabinetes dos membros do Governo integrados na área governativa Ambiente e Ação Climática e aos demais órgãos e serviços nela integrados, nos domínios da gestão de recursos internos, do apoio técnico-jurídico e contencioso, da documentação e informação e da comunicação e relações públicas.

Visão:

"Ser uma referência na Administração Pública portuguesa, no suporte às políticas, na representação internacional e na partilha de serviços."

Pergunto-me, quais os direitos humanos dos meus filhos e dos filhos deles neste país ? País onde se vendem casas a preços exorbitantes e se fazem propostas de redução de impostos a estrangeiros. País onde se abatem  - em nome do progresso e dinheiro - árvores e ecossistemas para dar lugar à crescente  plantação de centrais fotovoltaicas, como se não houvessem telhados suficientes para a colocação dos painéis - chama-se a isto energia verde. Sinto-os escorraçados nos seus direitos consagrados na nossa Constituição, sinto que os velhos já não se importam e os novos não querem saber.  

 

 

Milhões

13
Jul14

 

Ilustração Jane Massey

 

Vendo as notícias televisivas tenho dúvidas sobre a crise, é tantos milhões para cá e para lá que fico a pensar em quantas palavras acabarão em ões. 

 

Quando eu era miúda uma das minhas histórias preferidas era a de uma vaca que não gostava de pasto, apenas comia trevos de quatro folhas, ora como era difícil encontrar tal iguaria a vaca foi ficando cada vez mais magra, o dono ao vê-la assim pensou, pensou, pensou e resolveu por uns óculos à vaca. A partir dessa altura a vaca começou a engordar e a pastar em todo o lado com uma felicidade nunca antes vista. As pessoas que por ali passavam e que a conheciam foram interrogar o dono da vaca, o que lhe fizeste para ela andar tão feliz e bonita? O lavrador respondeu que lhe tinha oferecido uns óculos e que desde aí a vaca era outra, mas que têm os óculos de tão especial, nunca vimos uma vaca de óculos e todas parecem felizes. Mas estes não são uns óculos quaisquer, eles têm desenhados uns trevos de quatro folhas.

 

Milhões de desalojados, milhões de refugiados, milhões de mulheres como espécie secundária, milhões de crianças com fome, milhões de transferências bancárias no mundo do futebol, milhões de acções na banca, milhões em offshores, milhões...e nós com os óculos postos e felizes.

 

Alice Alfazema