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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Entre o vale e a montanha

17
Set17

 

Ilustração  Kiuchi Tatsuro

 

 

 

 

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte,

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por casas, por prados,

Por quinta e por fonte,

Caminhais aliados.

 

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte,

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por penhascos pretos,

Atrás e defronte,

Caminhais secretos.

 

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte,

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por plainos desertos

Sem ter horizontes,

Caminhais libertos.

 

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte,

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por ínvios caminhos,

Por rios sem ponte,

Caminhais sozinhos.

 

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por quanto é sem fim,

Sem ninguém que o conte,

Caminhais em mim.

 

 

 

 

Fernando Pessoa

 

 

O domingo é o vale, e  a montanha o trabalho que se avizinha. Todas as semanas percorremos vales diferentes cada qual com a sua montanha. Há semanas em que a brisa corre suave pelo vale e na montanha temos precipícios, há outras em que o vale é percorrido por animais ferozes e a montanha tem cascatas e grutas onde há silêncios que curam. Vivemos entre o vale e a montanha, umas vezes abaixo outras acima.

 

 

Alice Alfazema

 

 

 

Plantei girassóis. Semeei estrelas.

11
Nov10

 

"Das mãos que me vestiram e acarinharam em criança, guardei os gestos de silêncio e ternura.

 

Em vibração e alegria adolesci.

 

Nas margens dos voos e das vertigens amadureci.

 

Bebi o sol e mar, mergulhei as mãos no azul, provei a água dos frutos, sorvi o orvalho das rosas.

 

Com estes fios, por dentro, me teci, me cobri e descobri.

 

Com eles atravessei poentes e alvoradas, sulquei caminhos, subi montanhas.

 

Plantei girassóis. Semeei estrelas."