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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Quero ir para a escola

15
Abr20

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Estando eu a lembrar-me frequentemente, através dos gritos ocos que ainda tenho na memória, da algazarra que havia todos os dias nos pátios da escola, das filas para a entrada, das saídas em grande pressa, e daqueles que iam para a escola de manhã só tendo aulas à tarde, e dos que só tinham aulas de manhã e ficavam lá pela tarde fora, dos que levavam as bolas de futebol dentro de um saco do Pingo Doce, para as grandes jogatinhas entre os intervalos, os feriados e os tempos em que apenas o convívio faz falta, e a escorrer suor iam buscar garrafas de água, e mais qualquer coisita para comer, porque o corpo precisa de ser alimentado, e a malta está a crescer. E dos que estando a terminar o terceiro ciclo não tiveram tempo de iniciar namoros, nem coragem para juntar lábios e línguas, num despertar de Primavera de uma vida toda pela frente. E do que lhes dizia frequentemente: ainda vão ter saudades nossas...

 

Muitos não terão ainda acesso à tão falada e elogiada escola virtual, a desigualdade social agudizou-se,  mas todos  terão saudades das jogatinas com os amigos, das confidências e dos dramas vividos ao vivo e a cores, do cheiro da sala de aula, e do balneário do ginásio, de mandar recados às miúdas e aos miúdos que consideravam mais giros, das brigas, das corridas até ao bar, do grito das Continas por deitarem o lixo para o chão, do curativo feito no posto médico, mesmo que quase não se veja a ferida, do chá de limão que dá para tudo e mais alguma coisa, do professor chato que mandou arejar as ideias, das mesas de pingue-pongue, e dos empurrões à máquina da bolachas, de encomendar uma pizza e ir comer para o polivalente com os amigos, das tostas mistas cheias de manteiga e queijo derretido, do cansaço e da seca que era a escola.

 

Fará parte da nossa história o momento que estamos a viver, que nos torne melhores e mais inclusivos, que sirva para perceber a diversidade que há em cada lugar e principalmente a importância da valorização do trabalho em equipa num espaço tão dinâmico. 

 

 

Alicinha Contina hoje não foi à escola!

29
Nov19

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Alicinha Contina hoje não foi à escola, é sexta-feira e aproveitou a greve do pessoal não docente para fazer um fim-de-semana grande e como é dia de  Black Friday, vai aproveitar e gastar o seu salário mínimo em grandes compras, procura essencialmente um abafador de som, comprimidos para as dores ou pomadas, ou até consultas de fisioterapia ou afins em pacotes de desconto. 

 

 

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A Alicinha tem um emprego para a vida, com um aumento salarial também para a vida, porque a Alicinha só será aumentada perto da reforma, isto se chegar lá. Alicinha lavará sanitas de andarilho, e deixará os meninos andarem uma voltinha na sua  Stannah Mini, claro que a Alicinha não se sente explorada quando ganha uma miséria, afinal limpar não custa nada, qualquer um pode fazê-lo.

 

 

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O trabalho da Alicinha é rotineiro, passa o dia a abrir carcaças e a por fiambre no pão, a gritar com os meninos e a lavar o chão. Só trabalha 35 horas semanais, afinal o que ela quer mais!? Pastilhas para a tosse. 

 

 

 

Conversas da escola - Qual é a temperatura por estes dias no bar

24
Jan19

Atrás do balcão do bar da escola trabalha-se com 12º C, está um frio do caneco, parece que estamos em plena rua, apenas com uma diferença: não temos o casaco grosso no corpo, porque é impossível trabalhar assim vestida, a única salvação é o chá a ferver. Digam lá que o meu patrãozinho não é bonzinho? O chá pago eu, mas a água dá-me ele. 

Lei n.º 60/2018. Salário igual para trabalho igual.

23
Ago18

Lei n.º 60/2018

de 21 de agosto

Aprova medidas de promoção da igualdade remuneratória entre mulheres e homens por trabalho igual ou de igual valor e procede à primeira alteração à Lei n.º 10/2001, de 21 de maio, que institui um relatório anual sobre a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, à Lei n.º 105/2009, de 14 de setembro, que regulamenta e altera o Código do Trabalho, e ao Decreto-Lei n.º 76/2012, de 26 de março, que aprova a orgânica da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.

 

Ver mais: Lei n.º 60/2018

 

 

Ora aqui está uma lei que eu gostava de ver aplicada no meu local de trabalho, dou-vos só um exemplo: existem escolas que ainda têm guardas, são vigilantes nos espaços exteriores. Na minha escola já tivemos vários, de há uns anos para cá desapareceram, o que vos digo é que esses senhores, todos eles homens e já reformados, ganhavam muito mais que nós. Adivinhem quem faz este trabalho agora e por muito menos?

 

Poderia também vos falar duma dupla discriminação: a salarial e a profissional, não somos consideradas profissionais de Educação, mas desempenhamos todos os dias funções que estão ligadas ao bem estar e ao desenvolvimento da comunidade educativa. Contribuímos com o nosso trabalho para  a manutenção de um espaço que promova a integração inclusiva, mediamos conflitos, fazemos primeiros socorros, damos comida à boca, damos medicação, insulina, mudamos fraldas, cuidamos da higiene do espaço, estamos atentas às questões do racismo e do bullying, ouvimos gente mal disposta, somos responsáveis pelo fecho e abertura da escola, atendemos o telefone, fazemos refeições, estamos nos pátios, na portaria, no ginásio, na reprografia, na biblioteca, plantamos as flores que estão nos canteiros, regamos a horta, fazemos cortinados, pintamos, carregamos coisas de um lado para outro, ficamos com meninos à porta da escola até os pais chegarem, damos abraços, enfim estamos lá para o que der e vier. Vestimos a camisola mas não pertencemos à equipa.