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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Entre a ponte e o céu

20
Abr19

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Eu estava na ponte e dei um salto até à outra margem, vi homens e mulheres vagueando apressadamente pelas ruas da cidade. Todos os dias era  a mesma coisa, passavam a ponte de um lado para o outro, num lado descansavam, no outro andavam apressados em rebanhos de gente que tem de cumprir horário. 

 

À noite a ponte iluminava-se e dava as boas-vindas aos astros e aos morcegos, corujas também lá apareciam. Um dia uma estrela ficou presa num pilar da ponte, julgava que aquelas luzinhas eram estrelas pequeninas e ia tentar ajudá-las, mas não, aquilo era coisa de gente, era iluminação para  acrescentar o dia e imitar a noite. 

 

A estrela ficou lá presa durante toda a noite, ela bem que tentou libertar-se, mas cada vez se enroscava mais naquele emaranhado de armações e parafusos, por fim resignou-se e deixou-se ficar quieta, à espera que as suas forças a abandonassem, sabia que não iria ter forças para voltar ao céu e já tinha saudades da vista lá de cima. Adormeceu.

 

Chegaram as primeiras horas da madrugada, os primeiros raios de sol vieram cumprimentá-la, a estrela acordou e viu-se a diminuir de tamanho, ficou tão pequenina que ninguém a conseguia ver, nisto eleva-se como que por magia, estava tão leve que num instante chegou ao pé das suas irmãs estrelas e lá do alto ficou a contemplar aquela ponte que unia as pessoas e que à noite parecia ter estrelas a brilhar para lembrar que o céu não fica assim tão longe.

No piano da minha sala

29
Mar16

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Os dias às vezes são como as teclas dos pianos, produzem diversos sons, graves, agudos, desafinados, lindos, feios. À que saber tocar, ou ficar em silêncio? É engraçado ouvir como se formam os sons, como se interligam, como se desfazem uns nos outros.  A criatividade que se ouve, que se sente, aquilo que somos capazes de recordar, o que conseguimos reter, as emoções para onde nos levam os sons. As mãos bailando em cima das teclas, vão e vêm, às vezes num frenesim, às vezes mansas, os sons elevam-se tímidos, às vezes revoltos, parecem as ondas salgadas de que tanto gosto, brincam até ao tecto, vão até à porta, não saem, entram então nos meus neurónios já cansados dos dias de gritaria e explodem. Oiço assim o baloiçar das notas, as teclas separam-se na ponta dos dedos. É magia. 

 

Alice Alfazema