Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Pausa

Árvore de Natal

13
Dez22

IMG-20221208-WA0012.jpgEste de cima é o Gilberto, em baixo está também o Jobim, talvez das coisas mais importantes na vida seja fazer pausas, tão importante como inspirar e expirar, coisa que fazemos sem darmos por isso, contudo nas pausas temos que nos predispor a tê-las ou a fazê-las, talvez seja interessante pensarmos no que nos aconteceria se apenas inspirássemos. 

IMG-20221208-WA0015.jpg 

a zona de pausa

tens de a ter, caso contrário, as paredes
cercar-te-ão.
tens de desistir de tudo, deitar
fora, deitar tudo fora.
tens de olhar para o que estás a olhar
ou pensar no que estás a pensar
ou fazer o que estás a fazer
ou
a não fazer
sem considerar proveito
pessoal
sem aceitar orientação.

as pessoas estão consumidas com
o esforço,
escondem-se em hábitos
comuns.
as suas preocupações são preocupações de
manada.

poucos têm capacidade de olhar
para um sapato velho durante
dez minutos
ou de pensar em coisas estranhas
como: quem é que inventou
a maçaneta?
tornam-se desvivas
por serem incapazes de fazer
uma pausa
de se desarmarem
de se desdobrarem
de desverem
de desaprenderem
de se exporem.

escuta o seu riso
falso, depois
vai-te
embora.

Charles Bukowski, OS CÃES LADRAM FACAS (Antologia Poética), selecção, organização e prefácio de Valério Romão, tradução de Rosalina Marshall, ed. Alfaguara

  

Estrelas no chão

14
Set21

estrelas no chão.jpg

Fotografia Artur Pastor

 

Há tantas coisas em que nunca pensámos por falta de tempo! Na esperança, por exemplo. Quem vai perder cinco ou dez minutos a pensar na esperança, quando pode usá-los muito mais proveitosamente a ler um romance ou a falar ao telefone com uma amiga, a ir ao cinema ou a redigir ofícios no emprego? Pensar na esperança, que coisa imbecil! Até dá vontade de rir. Na esperança... Sempre há gente... E ela metida como areia nas pregas e nas bainhas da alma. Passam anos, passam vidas, aí vem o último dia e a última hora e o último minuto e ela então aparece a tornar inesperado aquilo por que esperávamos, a fazer o que já era amargo ainda mais amargo. A tornar mais difíceis as coisas.

 

Maria Judite de Carvalho, in Tanta Gente, Mariana