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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Porque o Dia da Mãe é sempre que um filho quer

28
Abr21

 

 

Mãe descobri que o tempo pára

E o mundo não separa o meu coração do teu

Eu sei que essa coisa rara

Aumenta, desassossega mas pára

Quando o teu tempo é o meu

 

Mãe canta com vaidade

Porque já tenho idade

Pra saber

Que em verdade em cada verso teu

Onde tu estás estou eu

 

Mãe contigo o tempo pára

Nosso amor é coisa rara

E cuidas de um beijo meu

Sei que em cada gesto teu

Está teu coração no meu

 

Mãe canta com vaidade

Porque já tenho idade

Pra saber

Que em verdade em cada verso teu

Onde tu estás estou eu

 

Se pudesse mandar no mundo

Parar o tempo à minha vontade

Pintava teu coração com as cores da felicidade

Em cada gesto teu

Está teu coração no meu

 

Mãe canta com vaidade

Porque já tenho idade

Pra saber

Que em verdade em cada verso teu

Mãe...

A nossa espera valeu

 

Poema de Martim Nunes Ferreira

Olhos de gato

07
Ago19

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Gosto de gatos vadios, daquele olhar inconfundível de indiferença perante quem passa. Eu estou aqui, mas só me apanha quem eu quiser. 

 

Quando eu era miúda tinha gatos, mas eram gatos hóspedes, iam a casa quando queriam e nem dormiam por lá, miavam bem alto quando lhes apetecia e participavam em grandes lutas com os gatos dos vizinhos.

 

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Quase todos os nossos vizinhos tinham gatos, não me lembro de cães. Os gatos não eram vacinados e muitas vezes nem tinham nome. Os gatos da minha avó chamavam-se - Pirolito, os da minha mãe eram pretos e tinham o nome de Chibanga, em homenagem ao toureiro Ricardo Chibanga e de quem ela tanto gostava de ver tourear um belo touro. Era tudo muito simples, eu nunca opinei sobre os nomes dos gatos, nem tal me passava pela cabeça.

 

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Havia dias em que os gatos não apareciam lá por casa, a mim fazia-me aflição, mas a minha avó dizia-me: foram às gatas. Porque os nossos gatos eram só machos. Em dias de lua cheia haviam lutas tenebrosas, miados gritados a plenos pulmões, garras afiadas cruzavam os céus e desferiam golpes profundos. Por vezes ficava a pensar nos meus gatos e de como viriam. Passados dias apareciam, magros e sujos, orelhas ratadas e arranhões por cicatrizar. A minha mãe pegava neles e curava-os, qual enfermeira dedicada, só comiam depois do tratamento, e eles compreendiam. 

 

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Os meus gatos eram gatos piratas, que voltavam ao seu porto de abrigo quando queriam e quando podiam, ninguém lhes exigia nada, bem talvez uma festa.