Qual o local de eleição deste ano?
Ilustração Irene Fioretti
Este ano temos estado demasiado atentos aos outros e passamos muito tempo à janela. Tem sido um ano de profunda reflexão sobre os valores que queremos e dos que devemos abandonar. Não é para mim um ano desperdiçado, como tenho ouvido dizer por aí. É um patamar de mudança, se fosse um jogo, chamaríamos de - mudança de nível. Ou caímos, ou subimos, a diferença é que aqui não há como ficar no mesmo nível. Sabemos que esta janela temporal é comum e global, sabemos também que apesar de ser comum e global, ela é diferente em cada país, e em cada pedaço do globo, e não só por essa forma, ela também difere pelo bairro em que vivemos ou da cidade, pela forma como nos alimentamos, pela profissão que temos, pelo poder económico, pela idade e até o género. A imagem de que o vírus atinge todos da mesma forma não é verdadeira. Há quem tenha de se expor como um peão, outros como um bispo ou um rei. E nisto passámos a Primavera à janela, tanto na real como na janela virtual que nos permite estarmos aqui a escrever e a lermos uns e outros. A janela é um ponto de partida para o conhecimento, um ponto de vigia, de acesso, e ainda de encontro paralelo neste mundo global de desigualdades crescentes e incrivelmente ignoradas, mesmo debaixo do nosso nariz, perdão - janela. Deste modo a nossa rua (que é onde estão as nossas janelas), é alargada em proporção da população existente globalmente, e é relegada em detrimento de outros valores que continuam a sobrepor-se à sua existência, valores esses que contribuem directamente e indirectamente para aquilo que estamos a viver. Numa doença não se verificam apenas os sinais e os sintomas, muitas das vezes é nas causas que está a solução. Ou então a velha máxima: Onde? Como? Quando? Porquê?