Não é só o sol que se vai embora,
é também a oportunidade única de vivermos um momento tão belo e fugaz, sabendo de antemão que jamais haverá outro igual.
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é também a oportunidade única de vivermos um momento tão belo e fugaz, sabendo de antemão que jamais haverá outro igual.
Nasci num tempo em que a maioria dos jovens tinham perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a tinham tido — sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com os seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.
Bernardo Soares, In Livro do Desassossego
Fotografia Pedro Rego
A verdade é que o frio nos torna mais frágeis, não fomos criados biologicamente para termos resistência ao frio, vivendo somente com o nosso corpo, sem vestes nem aquecimento, dificilmente iríamos resistir à morte, não só fisicamente, mas mentalmente, é necessária uma resistência mental, mais ainda que física, para ultrapassar Invernos rigorosos.
Não gosto de lareiras, não é que não goste de me aquecer no fogo, ou de ver o fogo, não é isso, acho o fogo hipnotizante, reconfortante, meditativo, e até sinónimo de vida. O que não gosto nas lareiras é o cheiro a incêndio, a árvores queimadas, a sofrimento, a perda de habitat, não gosto, detesto. Por aqui, na minha rua, no meu bairro, o cheiro é tão intenso, que fica na roupa, no ar, é como se durante uns meses eu vivesse num permanente incêndio.
Por qualquer berma de estrada é possível encontrar pilhas de lenha para venda. Serão às toneladas. Pergunto-me constantemente de onde vêm? E o que ficou no espaço de onde vieram? Custam poucos cêntimos o quilo e vendem-se como pães quentes. Esgotam-se com facilidade. No entanto, depressa são repostas. Pergunto-me se será licito continuar-mo-nos a aquecer desta forma tão primitiva. Em cada casa um pequeno incêndio, todos os dias perto de si.