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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Não é só o sol que se vai embora,

27
Fev23

IMG_20230225_181537.jpgé também a oportunidade única de vivermos um momento tão belo e fugaz, sabendo de antemão que jamais haverá outro igual.

Muda é a força (dizem-me as árvores)
e a profundidade (dizem-me as raízes)
e a pureza (diz-me a farinha).
Nenhuma árvore me disse:
"Sou mais alta que todas".
Nenhum raiz me disse:
"Eu venho do mais fundo".
E nunca o pão me disse:
"Nada há como o pão".
 
 
Pablo Neruda, tradução Carlos Campos

Tempo do desassossego

24
Fev23

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IMG_20230129_081527.jpg Nasci num tempo em que a maioria dos jovens tinham perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a tinham tido — sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com os seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.

Bernardo Soares, In Livro do Desassossego 

 

 

Frio

Árvore de Natal

04
Dez22

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 Fotografia Pedro Rego

A verdade é que o frio nos torna mais frágeis, não fomos criados biologicamente para termos resistência ao frio, vivendo somente com o nosso corpo, sem vestes nem aquecimento, dificilmente iríamos resistir à morte, não só fisicamente, mas mentalmente, é necessária uma resistência mental, mais ainda que física, para ultrapassar Invernos rigorosos. 

O fogo na minha rua

12
Jan21

Não gosto de lareiras, não é que não goste de me aquecer no fogo, ou de ver o fogo, não é isso, acho o fogo hipnotizante, reconfortante, meditativo, e até sinónimo de vida. O que não gosto nas lareiras é o cheiro a incêndio, a árvores queimadas, a sofrimento, a perda de habitat, não gosto, detesto. Por aqui, na minha rua, no meu bairro, o cheiro é tão intenso, que fica na roupa, no ar, é como se durante uns meses eu vivesse num permanente incêndio.

Por qualquer berma de estrada é possível encontrar pilhas de lenha para venda. Serão às toneladas. Pergunto-me constantemente de onde vêm? E o que ficou no espaço de onde vieram? Custam poucos cêntimos o quilo e vendem-se como pães quentes. Esgotam-se com facilidade. No entanto, depressa são repostas.  Pergunto-me se será licito continuar-mo-nos a aquecer desta forma tão primitiva. Em cada casa um pequeno incêndio, todos os dias perto de si.