![]()
As ilustrações foram feitas pela Luísa Ferreira Nunes, que é bióloga e também escreve:
Em meados de Abril, a Primavera vai dando lugar ao Verão e vou em direção ao Parque do Tejo Internacional.
Os abelharucos pousam nos fios das vedações e os matos intensamente floridos formam mosaicos de rosmaninho e giesta. Na minha frente passa o amarelo vibrante do papa-figos (Oriolus oriolus), que não é assim tão fácil de avistar. O seu canto soa a ave exótica. Não é chilreado nem melódico, antes uma “flauta” não muito afinada que se repete por cadências.
Caminhar pelos estevais altos de Idanha é como desbravar capim e as folhas pegajosas da esteva parecem agarrar-me as roupas e as mãos. São inúmeros os polinizadores, entre himenópteros (abelhas e afins) e coleópteros (escaravelhos) que circulam entre as flores grandes, brancas e frágeis. No céu, a voar em círculos, os grifos (Gyps fulvus) e um casal de milhafres negros (Milvus nigraus).
Mais à frente as copas das azinheiras tocam a vegetação arbustiva num emaranhado muito favorável aos javalis e veados. Na sombra, sento-me perto de um tronco já parcialmente consumido por fungos decompositores e perfurado por longas galerias de larvas de capricórnio (Cerambix cerdo), um notável coleóptero/escaravelho que pode atingir os 10 cm de comprimento.
Continuei no sentido do troço fronteiriço do Rio Tejo para entrar dentro dos limites do parque.
Tomando caminhos inóspitos ladeados por muros de pedra, fui ao encontro dos vales de azinheiras. No percurso observei as cotovias (Galerida cristata) e demorei-me nos sons do seu canto articulado, agudo e ágil.
![]()
Podem saber mais em Wilder.
Alice Alfazema