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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Conversas da escola - Almoçar fora

17
Out17

Um dos miúdos que almoça na escola com o escalão A, e que tem lanche dado pela escola. É um rapaz  que gosta de comer fruta e de jogar à bola e que quer ser igual a todos os outros.

 

- Sabe que ele ontem não foi almoçar no refeitório? Disse-me que tinha ido almoçar fora...almoçou com os outros fora da escola. E sabe o que ele me disse? Que comeu duas ou três batatas fritas que os outros lhe tinham dado...

 

 

Alice Alfazema

Sobre o salário mínimo português

14
Jan17

É uma evidência que o salário mínimo português é uma miséria que nos devia envergonhar enquanto povo. Nem se trata de o comparar além fronteiras com os países “irmãos” europeus. Basta olhar para ele. Basta verificar que não permite uma sobrevivência digna a quem dele aufere. Todavia, para que seja aumentado, o patronato exigiu benesses. Faz isto algum sentido? Não, não faz nenhum sentido, a não ser num país totalmente lacaio dos interesses da burguesia.

 

Retirado do blogue Porto de Amato

 

 

 

Alice Alfazema

 

A troco de comida

14
Abr13

 

Pintura de John Mc Ghie 


 

A mulher pôs o anuncio no painel do supermercado, tomo conta de idosos a troco de comida. Trabalha como varredora de rua. O ordenado não lhe chega para alimentar os dois filhos. Por vezes a água e a luz ficam por pagar. Tem muita tonturas, pois vai trabalhar sem comer. 

 

Há uns anos, aquando da possível epidemia da gripe das aves eram distribuídas vacinas gratuitamente ao pessoal da limpeza e recolha de lixo. Estas pessoas que desempenham tais serviços são cruciais para a nossa sociedade, delas depende o nosso bem estar, quer ambiental quer sanitário. No entanto, essa mulher ganha miseravelmente, tanto que nem para a comida chega, presumo que tem de fazer opções, entre ficar sem casa ou sem comida, prefere a primeira. Estas funções chegam a ser pagas a 2,5€ à hora. Muito digno, não? 

 

É esta a nossa sociedade, cheia de castas e castinhas. 

 

A mulher de cabelo preso, há muito que deixou de pintá-lo, refere que o dinheiro não é importante, apenas o carinho é importante. Enquanto para uns a vida é feita das escolhas sobre as cores da roupa que vão vestir, que tipo de pulseira usar, qual o melhor perfume...para outros que trabalham, igualmente, a escolha é feita através de um prato de comida. 

 

Estamos em Abril 2013, no entanto o senhorio alastra-se. 

 

Ela agarra a mala, com força, talvez procure aí a força para continuar.  A sua cara tem expressão, gasta, de quem chora, não que ela queira ser assim, foi esta vida, esta desigualdade imposta que lhe tirou os seus projectos. A ela como a outros são vedados os sonhos. 

 

Antes desta reportagem, já havia passado uma outra sobre o desperdício da comida. Muita comida é desperdiçada. Tanta que dava para combater a fome a nível mundial. Há fruta que fica a apodrecer nas arvores, outras são vendidas à industria a 1 cêntimo. A pobreza propaga-se a uma velocidade galopante e com ela a pobreza de espírito.

 

 

Alice Alfazema