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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alegra-te

Árvore de Natal

14
Dez22

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Ilustração Holly Warburton

 

O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.

Clarisse Lispector

"Os gomos da viagem se abrem como uma laranja."

14
Out20

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Que nome eu tenho para você?
Certamente não há nome para você
No sentido em que estrelas têm nomes
De alguma forma adequados. Apenas andando por aí,

 

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Um objeto de curiosidade para alguns,
Mas você anda muito preocupado
Pela mancha secreta por detrás de sua alma
Para dizer muito e vagar por aí,

 

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Sorrindo para si e para os outros.
Chega a ser meio solitário.
Mas ao mesmo tempo desconcertante.
Contraproducente, como você percebe novamente

Que o caminho mais longo é o mais eficiente,
Aquele que circula entre ilhas, e
Parece sempre percorrer um círculo.
E agora que o fim está próximo

 

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Os gomos da viagem se abrem como uma laranja.
Lá dentro há luz e mistério e comida.
Venha vê-la. Não por mim, mas por ela.
Mas se eu ainda estiver lá, garanto que veremos um ao outro.

 

 

Poema de John Ashbery, tradução de Mariana Basílio.