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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

#diariodagratidao 29-01-2019

29
Jan19

 

Ilustração Anna Burighel

 

Hoje fui ao posto médico para uma consulta. Enquanto estava à espera que me chamassem fui observando as pessoas à minha volta. Mulheres, mães com filhos, filhos com pais, homens e um com um bebé. Entrou empurrando o carrinho com o ovinho, o  bebé estava tapado com um cobertor cor-de-rosa. Sentou-se e destapou o bebé. Assim meio desajeitado. A criança devia de estar a dormir. Encanta-me ver os homens assim a cuidarem dos filhos, meio desajeitados, mas prontos a aprender e a enfrentar a paternidade. Por estes dias existem inúmeros homens assim, estou grata por nos estarmos a afastar do "chefe de família", estes miúdos com certeza vão ter memórias fantásticas.

 

Uma boa constipação

27
Fev18

 

Ilustração Henrietta Harris

 

 

 

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer

 

 

 

António Lobo Antunes - Sátira aos HOMENS quando estão com gripe
in Letrinhas de Cantigas (canções) 2002

 

 

 

Alice Alfazema