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Gosto de gatos vadios, daquele olhar inconfundível de indiferença perante quem passa. Eu estou aqui, mas só me apanha quem eu quiser.
Quando eu era miúda tinha gatos, mas eram gatos hóspedes, iam a casa quando queriam e nem dormiam por lá, miavam bem alto quando lhes apetecia e participavam em grandes lutas com os gatos dos vizinhos.
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Quase todos os nossos vizinhos tinham gatos, não me lembro de cães. Os gatos não eram vacinados e muitas vezes nem tinham nome. Os gatos da minha avó chamavam-se - Pirolito, os da minha mãe eram pretos e tinham o nome de Chibanga, em homenagem ao toureiro Ricardo Chibanga e de quem ela tanto gostava de ver tourear um belo touro. Era tudo muito simples, eu nunca opinei sobre os nomes dos gatos, nem tal me passava pela cabeça.
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Havia dias em que os gatos não apareciam lá por casa, a mim fazia-me aflição, mas a minha avó dizia-me: foram às gatas. Porque os nossos gatos eram só machos. Em dias de lua cheia haviam lutas tenebrosas, miados gritados a plenos pulmões, garras afiadas cruzavam os céus e desferiam golpes profundos. Por vezes ficava a pensar nos meus gatos e de como viriam. Passados dias apareciam, magros e sujos, orelhas ratadas e arranhões por cicatrizar. A minha mãe pegava neles e curava-os, qual enfermeira dedicada, só comiam depois do tratamento, e eles compreendiam.
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Os meus gatos eram gatos piratas, que voltavam ao seu porto de abrigo quando queriam e quando podiam, ninguém lhes exigia nada, bem talvez uma festa.